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Conferência da ONU sobre biodiversidade entra em reta final dependente de aprovação de metas

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Um acordo para salvar a natureza na conferência da ONU sobre a biodiversidade, a COP15, em Montreal, dependerá de uma aproximação das posições dos ministros nesta quinta-feira (15), após dias de negociações intensas e complicadas.


A reunião de alto nível prosseguirá até segunda-feira (19), quando deverão ser aprovadas 20 metas com o objetivo de recuperar os ecossistemas, restaurar as terras degradadas e colocar quase um terço da Terra sob proteção.




Para alcançar o acordo, os 196 membros do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB) da ONU devem concordar com um “marco global de biodiversidade“, que permanecerá em vigor até 2030.


Os cientistas alertam que o ser Humano deve repensar de forma urgente sua relação com a natureza, antes que a exploração e depredação excessivas confirmem o que muitos temem: a sexta extinção em massa na história do planeta.


Mas como aconteceu há pouco menos de um mês na COP27 sobre o clima, em Sharm el-Sheikh (Egito), o dinheiro monopoliza boa parte das discussões na cidade canadense.


E este cenário provocou o aumento da tensão na quarta-feira (14), quando as delegações dos países em desenvolvimento e as nações ricas interromperam as negociações, que ficaram paralisadas por várias horas.


O ponto de discórdia: a criação de um fundo para a biodiversidade, que respalde economicamente os esforços para cobrir as metas do pacto.


“Nossos territórios abrigam a maior parte da diversidade biológica do mundo”, afirmou a delegação do Brasil, que lidera uma coalizão de dezenas de países que exige “subsídios financeiros de pelo menos 100 bilhões de dólares por ano, ou 1% do PIB mundial até 2030”.


O valor representa 10 vezes a ajuda atual e a mesma quantia prometida para a luta contra o aquecimento global.


Mas a posição dos países ricos é que criar este fundo pode “demorar anos” e seria menos eficaz que reformar os mecanismos financeiros já existentes.


A mediação da presidência chinesa da COP15 permitiu a retomada do diálogo, após uma reunião de emergência na qual os países desenvolvidos “demonstraram flexibilidade” sobre as modalidades de mobilização de recursos, disse David Ainsworth, porta-voz da CDB.


Vontade política

No centro dos debates estão vários temas importantes: a proteção de 30% do espaço terrestre e do espaço marítimo mundial, um grande avanço em relação aos respetivos 17% e 8% atuais.


Também estão em debate a eliminação dos subsídios bilionários prejudiciais às espécies, o apoio à pesca e à agricultura sustentáveis, a redução dos pesticidas e o reflorestamento.


“O grupo africano quer chegar a um acordo com o dinheiro sobre a mesa, outros países emergentes também, mas o Brasil está utilizando a questão financeira para inviabilizar o processo”, afirmou um negociador.


Segundo a fonte, a delegação brasileira ainda segue as orientações do governo em fim de mandato do presidente Jair Bolsonaro, que apoia um agronegócio hostil à redução do uso de pesticidas.


Mas os países do Sul que se apresentam como ambientalmente ambiciosos também divulgaram sua mensagem: “Apesar de nossos esforços, estamos profundamente preocupados com a falta de um compromisso claro com a mobilização de recursos”, declarou o representante colombiano na reunião sobre a crise.


A atitude dos países desenvolvidos “deixou as negociações à beira da ruptura total”, declarou na quarta-feira Innocent Maloba, analista da ONG WWF International.


“Os países desenvolvidos, com seu papel eminente na crise da biodiversidade por seu nível de consumo, têm o dever de apoiar os países em desenvolvimento, é de seu próprio interesse”.


As necessidades são imensas: o custo de uma transição econômica capaz de proteger a natureza é calculado em quase 900 bilhões de dólares por ano, 25% para a conservação das zonas protegidas e o restante para “ecologizara economia.


Mas o mundo gasta “entre 130 e 140 bilhões de dólares por ano em biodiversidade, principalmente em fundos públicos que são gastos nos países ricos, enquanto muito pouco dinheiro chega ao Sul”, explica Gilles Kleitz, da Agência Francesa de Desenvolvimento.


Zakri Abdul Hamid, fundador malaio do IPBES, o equivalente para a biodiversidade do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), alertou os ministros: “O que falta aqui é vontade política e um consenso sincero sobre o que deve ser feito”.

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