Pais de adolescentes sírios desaparecidos em um naufrágio na costa grega se apegam à esperança de que seus filhos ainda estejam vivos, dias após a tragédia.
Uma embarcação de pesca lotada de migrantes afundou na costa do Peloponeso, na Grécia, na quarta-feira (14), matando pelo menos 78 pessoas.
Embora o número exato de passageiros seja desconhecido, centenas estão desaparecidos. Familiares e ativistas disseram à AFP que pelo menos 141 sírios estavam a bordo.
Iyad, originalmente de Jasim, na província de Daraa, no sul – o berço da guerra civil de 12 anos na Síria – explicou que seu filho de 19 anos, Ali, ainda estava desaparecido.
“Não tenho notícias dele”, disse Iyad, que trabalha em uma escola e não quis revelar seu sobrenome. “Sua mãe não para de chorar há três dias”, acrescentou.
O homem de 47 anos disse ter ouvido falar de dois relatórios gregos: um listando seu filho entre os sobreviventes e outro entre os mortos. “Tenho esperança de que ele esteja entre os sobreviventes”, disse à AFP por telefone neste sábado (17).
O adolescente estava em busca de uma vida melhor na Líbia, enfatizou seu pai, para onde voou de Damasco. “Ele nos disse que queria trabalhar em um restaurante” e planejava enviar dinheiro para ajudar a família, contou Iyad. “Não sabíamos que ele queria entrar em um barco”, disse ele.
Ativistas do Escritório de Documentação dos Mártires de Daraa disseram à AFP neste sábado que 106 pessoas a bordo do barco vieram do sul do país, principalmente da província de Daraa, onde, segundo eles, “a situação de vida e segurança é absolutamente insuportável”.
Eles acrescentaram que apenas 34 sobreviveram até agora.
– Agulha no palheiro –
Um jovem cego de 15 anos e sua irmã de 28 anos, da província de Daraa, também estão entre os desaparecidos, disse seu tio à AFP na sexta-feira, recusando-se a ser identificado por razões de segurança.
A província de Daraa foi o berço do levante de 2011 contra o presidente sírio, Bashar al-Assad, mas voltou ao controle do regime em 2018.
Iyad observou que o tio de Ali na Alemanha viajou para a Grécia, mas “é como procurar uma agulha no palheiro”.
“Se o encontrarem vivo, vamos trazê-lo de volta para a Síria. Não quero que meu filho fique longe de mim nem mais um segundo. Pegamos dinheiro emprestado para mandá-lo para a Líbia para trabalhar, não para morrer”, disse ele.
Em Kobane, no norte da Síria controlado pelos curdos, Mohamed Mohamed também aguarda notícias sobre o destino de seu filho Diyar, de 15 anos.
“Todos os dias a esperança de vê-lo novamente desaparece”, disse à AFP o mecânico de pneus na noite de sexta-feira.
Diyar “saiu porque a situação aqui é terrível”, disse o homem de 48 anos.
Kobane se tornou um símbolo da vitória sobre o grupo Estado Islâmico depois que as forças curdas apoiadas pelos Estados Unidos expulsaram os jihadistas em 2015.
Mas a cidade, também conhecida como Ain al Arab, está na mira da Turquia, que quer que as forças curdas se retirem das áreas de fronteira.
A Turquia realizou ataques mortais na área e ameaçou uma nova ofensiva terrestre.
Mohamed especificou que a família vivia a menos de um quilômetro da fronteira turca.
O “sonho de Diyar era ir para a Alemanha para ficar com meu irmão, que mora lá. Todo mundo quer ir”, disse ele, acrescentando que Diyar estava viajando com quatro amigos.