Os ativistas estrangeiros apelidaram-nas de “loiras americanas”: jovens que se apresentam como defensores da causa ambiental e celebram a realização da próxima conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Dubai, a COP28.
Uma outra característica percebida é que elas não são reais.
São contas que brotaram na rede social quase simultaneamente, com fotos de perfil claramente falsas, possivelmente criadas com Inteligência Artificial. Divulgam um discurso muito parecido, em particular ante a reação hostil dos ambientalistas contra o presidente da COP28, o patrono do petróleo dos Emirados Árabes Unidos, Sultan al-Jaber.
Elas têm nomes como Brianna, Emma, Caitlin ou Chloe, e suas fotos parecem ser tiradas de romances.
Especialistas em mídias sociais consultados pela AFP vinculam esse tipo de conta a uma campanha para influenciar a opinião pública a favor da organização da COP28 em Dubai.
Algumas dessas contas foram criadas em agosto de 2022, com poucas horas de diferença, de acordo com uma análise da Climate Action Against Disinformation (CAAD), uma coalizão de ativistas ambientais.
Um porta-voz da COP28 explicou à AFP por e-mail que essas contas falsas “foram geradas por atores fora da COP28, e seu objetivo evidente é desacreditar a COP28 e os efeitos”.
Segundo o mesmo porta-voz, o Twitter foi notificado sobre essas contas, e a maioria foi cancelada.
Grupos de deputados europeus e congressistas americanos pediram publicamente a renúncia de Jaber, presidente da petroleira ADNOC dos Emirados Árabes.
Jaber conta, no entanto, com o apoio dos protagonistas do negócio, começando pelo negociador-chefe dos Estados Unidos, John Kerry.
O polêmico presidente da COP28 aceitou publicamente que “o fim dos combustíveis fósseis é inevitável” e defendeu a interferência do desenvolvimento das energias renováveis.
“Advogados” ou “ambientalistas”
Essas contas falsas respondem rapidamente aos críticos de Jaber, como Romain Ioualalen, ativista da Oil Change International.
Ao tuitar que a COP28 em Dubai poderia representar uma desaceleração na transição energética, Ioualalen recebeu inúmeras respostas.
Caitlin, que se apresenta como uma “advogada” de Dubai, retrucou que a liderança de Jaber será “decisiva” na COP28, enquanto Emma, uma “ambientalista”, elogiou sua “paixão pela ação climática”.
No mês passado, o Center for Climate Reporting (CCR) garantiu no Twitter que os colaboradores de Jaber “limparam” a página da Wikipédia que citava sua atuação como diretor da ADNOC. Seu tuíte gerou respostas de aproximadamente 15 contas defendendo os Emirados Árabes.
O pesquisador do CCR garante que a foto do perfil de uma dessas contas permaneça em um site que gera retratos automaticamente, enquanto as outras contas saem de bancos de imagens.
O especialista em informática da Universidade de Exeter Diogo Pacheco explicou à AFP que várias dessas contas são claramente “fakes” e que, após serem denunciadas, nomes de usuário ou biografias foram alterados.
Uma “campanha” sem precedentes
“É muito raro que usuários reais criem ou usem esses perfis falsos”, diz a professora de Ciências da Comunicação Katharina Kleinen von Koenigsloew, da Universidade de Hamburgo.
A organização CAAD detectou um “esforço coordenado” de pelo menos 28 contas para apoiar os Emirados Árabes Unidos.
Um outro especialista em desinformação digital, Marc Owen Jones, disse à AFP ter detectado 93 contas suspeitas, dedicadas a retuitar toda a atividade da presidência da COP28.
“Geralmente são operações de relações públicas”, explica Jones, da Universidade Hamad Bin Khalifa, no Catar, uma nação rival dos Emirados Árabes.
Na opinião de Jamie Henn, diretor da campanha ambiental contra os combustíveis fósseis Fossil Free Media, “nunca houve uma campanha de desinformação tão grande” em mais de uma década de efeitos climáticos.
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