A residência do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump em Palm Beach, na Flórida, está no centro de um terremoto político e judicial que atingiu o país este mês. Foi na mansão em estilo mediterrâneo e 126 quartos que o magnata mantinha centenas de documentos sigilosos retirados da Casa Branca sem autorização, após o fim do mandato. Trump responde a 37 acusações criminais pela retirada e o armazenamento dos arquivos — no chuveiro, no quarto e no salão de baile de seu resort.
Trump anunciou, em novembro de 2019, que mudaria seu endereço oficial de Nova York para o resort na Flórida, que fica a 120 km ao norte de Miami. Palm Beach é uma ilha bilionária, de grandes casarões, carros de luxo, galerias de arte. A propriedade foi construída nessa região exclusiva, em 1927, pela socialite americana Marjorie Merriweather Post, dona da General Foods. Morta em 1973, ela deixou o local para o governo americano como uma possível “Casa Branca de Inverno”.
O espaço foi comprado pelo ex-presidente americano, em 1985, por cerca de US$ 10 milhões (R$ 48,8 milhões, na cotação atual). Diante de dificuldades financeiras, nos anos 1990, para custear os gastos estimados em US$ 3 milhões por ano (R$ 14 milhões), o magnata fez um acordo e aproveitou os cerca de 10 mil km² de jardins e a vista para o mar para transformar o espaço num clube de luxo: o resort Mar-a-Lago. Hoje, o local se descreve no site como “epicentro da cena social de Palm Beach”.
Em janeiro de 2021, associados ao clube pagavam taxa inicial de US$ 200 mil (R$ 976 mil) e uma taxa anual de US$ 14 mil (R$ 68 mil), de acordo com a BBC.
São, ao todo, 126 quartos — alguns deles privativos e exclusivos para a família Trump. O resort conta com lavatórios revestidos de ouro nos banheiros e várias opções de lazer para os hóspedes, como restaurantes, campos de golfe, quadras de tênis e ginásios.
Estrelas como a cantora Jennifer Lopez e os ex-presidente dos Estados Unidos Richard Nixon já ficaram no resort, onde o ex-mandatário brasileiro Jair Bolsonaro jantou com Trump em março de 2020. Bolsonaro chegou a cogitar passar a virada do ano no local, mas acabou optando pela casa do lutador José Aldo, em Orlando, também na Flórida.
Entre janeiro de 2021 e 8 de agosto do ano passado, a mansão em Palm Beach foi palco de mais de 150 eventos, entre casamentos e reuniões de arrecadação de fundos. Dezenas de milhares de convidados passaram pela propriedade até que agentes federais encontraram os documentos sigilosos retirados da Casa Branca. Parte dos arquivos ficou dois meses sobre o palco do salão de baile “Ouro e Branco” — o menor deles na residência e que fica no edifício principal do clube exclusivo, que tem centenas de associados e mais de 150 funcionários.
Algumas caixas, depois, foram levadas para a zona de escritórios do complexo, que inclui um spa, uma loja, espaços esportivos, jardim e uma piscina ao ar livre.