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Colisão de trens na Índia: entenda o que se sabe até agora sobre acidente que matou quase 300

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Uma colisão de trens no leste da Índia na sexta-feira (2) foi o pior desastre ferroviário do país em duas décadas, matando ao menos 275 pessoas e deixando mais de 700 feridos.


O acidente renovou os questionamentos referentes à segurança nos trilhos em um país que recentemente vem investindo muito em tal sistema — usado por milhares de pessoas diariamente — após um longo histórico de catástrofes similares.


Ao menos 275 mortes confirmadas

Dois três de passageiros colidiram por volta das 19h (hora local) de sexta-feira, após um deles colidir, a velocidade total, com um trem cargueiro estacionado e descarrilar no distrito de Balasore, no estado de Odisha, segundo um relatório inicial do governo. Ao menos 275 pessoas morreram, disse o governo estadual neste domingo, revisando uma contabilidade inicial de 288 mortos — algumas vítimas, afirmaram as autoridades, haviam sido contadas duas vezes. Há mais de 700 passageiros feridos, 56 deles gravemente.


De acordo com uma análise preliminar, investigadores afirmam que o primeiro dos trens de passageiros bateu com o cargueiro estacionado antes de descarrilar. O segundo comboio, vindo na direção oposta, colidiu com alguns dos carros que haviam saído dos trilhos. As autoridades creem que problemas na sinalização são causas prováveis do acidente.




Havia mais de 2,2 mil passageiros a bordo dos dois trens de passageiros, afirmam as autoridades ferroviárias, e ao menos 23 vagões descarrilaram no desastre. A força da colisão foi tamanha e deixou os cargos tão esmagados que forçou as equipes de resgate a usar equipamentos que cortam metal para chegar até as vítimas.


Um dos trens era um expresso Shalimar-Chenai Coromandel, de acordo com a Ferrovia Oriental do Sul. O serviço é conhecido por ligar as duas maiores cidades na costa leste indiana em velocidade relativamente alta. O outro comboio era um ultrarrápido expresso Yesvanpur-Howrah, que liga o centro de passageiros em Bangalore a Calcutá, a capital do estado de Bengala Ocidental.


O ministro de Ferrovias da Índia, Ashwini Vaishnaw, disse que ordenou uma investigação sobre a causa e que os envolvidos receberiam compensações.


O trem descarrilou perto de Balasore

A colisão ocorreu na estação de Bazar Bahangana, perto de Balasore, cidade próxima da costa no estado de Odisha, conhecido por seus templos antigos e pelo porto marítimo construído pelos britânicos no século XVII. A cidade fica a várias horas de carro do aeroporto mais perto, em Bhubaneswar, a capital de Odisha. Maio é com frequência a época mais quente do ano, e os termômetros ficaram ao redor de 40ºC nos dias antes do acidente.


A operação de resgate já havia acabado na manhã de domingo. Dezenas de trens foram cancelados, mas as equipes corriam para restaurar o serviço após a retirada dos vagões envolvidos na colisão. O ministro das Ferrovias afirmou que a expectativa é de uma retomada das linhas na quarta-feira, no mais tardar.


Descarrilamentos tornaram-se mais incomuns

Com frequência chamada de espinha dorsal da economia indiana, a vasta malha ferroviária do país é uma das maiores do mundo, e é vital para os cidadãos indianos, particularmente em bolsões rurais. Quase todas as linhas férreas do país — 98% delas — foram construídas de 1870 a 1930, de acordo com um estudo publicado em 2018 na The New American Economic Review.


Acredita-se que o acidente mais letal da história das ferrovias indianas tenha ocorrido em 1981, quando um trem de passageiros descarrilou ao cruzar uma ponte no estado de Bihar. Seus vagões afundaram no rio Bagmati, matando aproximadamente 750 passageiros. Muitos corpos nunca foram recuperados.


Descarrilamentos já foram frequentes na Índia, com uma média de 475 por ano de 1980 até cerca de 2002. Tornaram-se bem mais incomuns, com uma média de pouco mais de 50 por ano na década até 2021, de acordo com um relatório apresentado por autoridades ferroviárias no Congresso Mundial para Gestão de Desastres.


A segurança nos trilhos, de forma geral, melhorou nos últimos anos, com o número total de acidentes ferroviários graves caindo consistentemente: foram 22 no ano fiscal de 2020, em comparação com mais de 300 registros anuais duas décadas antes. Em 2020, já havia dois anos consecutivos que o país não registrava mortes em acidentes ferroviários — marco celebrado pelo governo do primeiro-ministro Narendra Modi. Até 2017, mais de 100 pessoas morriam por ano.


Ainda assim, colisões letais persistiram. Em 2016, 14 vagões descarrilaram no nordeste do país durante a madrugada, matando mais de 140 pessoas e ferindo outras 200. Na época, autoridades afirmaram que a responsabilidade poderia ser de uma “fratura” nos trilhos. No ano seguinte, outro descarrilamento noturno, desta vez no sul do país, matou ao menos 36 passageiros e feriu outros 40.


O acidente de sexta-feira foi o mais letal desde ao menos uma colisão em 1995, a cerca de 200 quilômetros de Nova Délhi. Mais de 350 pessoas morreram.


Modi transformou melhoria das ferrovias em prioridade

Uma das razões centrais para a melhoria na segurança dos trens foi a eliminação de milhares de cruzamentos sem supervisão, algo que o governo de Modi afirma ter ocorrido em 2019. O relativamente simples trabalho de engenharia de construir passagens subterrâneas e pôr mais condutores de sinal também reduziu drasticamente os incidentes.


Modi transformou em prioridade a melhoria da infraestrutura pelo país, especialmente dos modais de transporte. Nos últimos anos, as ferrovias — alguns dos projetos mais visíveis para os cidadãos — receberam atenção devido a uma série de iniciativas de alta tecnologia. Modi vem inaugurando trens elétricos de média distância, e constrói um corredor de “trem-bala”, no estilo japonês, na costa oeste, conectando Mumbai a Ahmedabad.


No sábado, contudo, ao invés de inaugurar um novo trem como o planejado, Modi visitou a cena do desastre da véspera.


O sistema ferroviário, e especialmente os acidentes de trem, há muito tempo afetam a sorte dos políticos indianos. O Ministério das Ferrovias é sempre uma das mais cobiçadas porque dá notoriedade pública é tem influência com os negócios e a indústria. Suresh Prabhu, creditado como o arquiteto do mundialmente reconhecido sistema metroviário de Nova Délhi, foi forçado a renunciar de seu posto em setembro de 2017 depois de uma série de acidentes.


Horas após o acidente de sexta, políticos de oposição já pediam a renúncia de Vaishnaw, o atual ocupante da pasta.

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