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Funerais marcam protestos no Peru, onde bloqueios persistem nos Andes

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Os protestos de setores radicais continuaram, nesta quarta-feira (11), no sul andino do Peru, com bloqueios de rodovias e velórios coletivos dos mortos nos confrontos com as forças de segurança, enquanto os Estados Unidos pediram “moderação” a todas as partes.


Ao mesmo tempo, uma missão de observação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) chegou esta semana a Lima para avaliar “a situação dos direitos humanos no âmbito dos protestos sociais”, que já deixaram ao menos 40 mortos em um mês e se estendem a outras áreas como a capital turística, Cusco.


Em meio às tensões sociais, o Ministério Público abriu na terça-feira uma investigação por suposto crime de “genocídio” contra a presidente Dina Boluarte, que impôs um toque de recolher na região andina de Puno para frear as manifestações violentas, que só na segunda e na terça-feira deixaram mortos 17 civis e um policial incinerado dentro de sua patrulha, informou a instituição.


O epicentro dos protestos fica na região aimara de Puno, na fronteira com a Bolívia, onde milhares de moradores foram às ruas de Juliaca com os caixões das 17 vítimas civis mortas na segunda-feira.




Os caixões, nas cores branca e marrom, foram carregados por amigos e familiares. Cada um exibia uma foto e uma bandeira do Peru cobrindo-o por completo.


“Dina me assassinou a tiros”, dizia a mensagem sobre o caixão branco de Edgar Huaranca, carregado nos ombros por seis familiares.


Durante o cortejo, multiplicaram-se cenas de raiva e dor das pessoas que se despediam de seus mortos e prometiam continuar com a luta até conseguir a renúncia do que consideram o governo ilegítimo de Boluarte.


Luto e toque de recolher

O Peru declarou luto nacional nesta quarta-feira em homenagem aos mortos na região de Puno, onde na terça-feira o governo decretou três dias de toque de recolher noturno em uma tentativa de conter os protestos.


Os bloqueios viários se estenderam a oito das 25 regiões do país, afetando Tacna, Moquegua, Puno, Cusco, Apurímac, Arequipa, Madre de Dios e Amazonas, segundo a Superintendência de Transporte Terrestre.


Em Cusco, capital do Império Inca e principal cidade turística, a polícia dispersou com gás lacrimogêneo centenas de moradores, entre eles camponeses, que tentavam tomar o aeroporto da cidade depois de se mobilizarem para pedir a saída da presidente.


Em Arequipa, segunda cidade do Peru, no sul do país, centenas também foram às ruas protestar contra o governo.


Em Tacna, na fronteira com o Chile, teve início uma paralisação por tempo indeterminado, marcada por episódios de vandalismo, como a queima de cabines de pedágio e a tentativa de saque a um shopping center.


A região de Puno começou há uma semana uma paralisação por tempo indeterminado, pedindo a renúncia de Boluarte, eleições presidenciais e legislativas imediatas e a convocação de uma Assembleia Constituinte.


Os governos regionais de Puno e Cusco exigem a demissão de Boluarte como primeiro passo para solucionar a crise.


“Moderação” e Direitos Humanos

Os comissários da CIDH foram recebidos por Boluarte no Palácio do Governo, sede do Executivo peruano.


“Vamos verificar a situação dos direitos humanos. Lamentamos a perda de vidas nos protestos”, disse à imprensa Edgar Stuardo Ralón, que preside a missão, que permanecerá no Peru até 13 de janeiro e se reunirá com autoridades, vítimas e familiares em Lima, Ica e Arequipa.


Boluarte foi vice-presidente até 7 de dezembro de 2022, quando o Congresso destituiu Castillo, depois que ele tentou fechar o Parlamento, intervir no Judiciário e governar por decreto.


Castillo, que era investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva, determinados por um juiz sob acusações de rebelião.


Segundo o governo, o ex-presidente boliviano Evo Morales está ligado aos protestos, razão pela qual o proibiu de entrar no Peru até nova ordem. Morales, que foi presidente da Bolívia entre 2006 e 2019, tem tido presença ativa na política peruana desde que o ex-presidente Castillo chegou ao poder em julho de 2021.


Os protestos completam uma semana depois de uma trégua durante as festividades de fim de ano. Em sua maioria pacíficos, alguns degeneraram em atos violentos como tomar de assalto aeroportos e ataques a locais públicos.


A polícia e as forças armadas também responderam com violência.


Neste contexto, os Estados Unidos pediram nesta quarta-feira “moderação” e que seja reduzido “ao mínimo” o uso da força nas manifestações.

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