O líder israelense Benjamin Netanyahu conseguirá controlar seus aliados de extrema-direita? A questão paira sobre Israel e a Cisjordânia ocupada, onde se teme uma escalada militar após a pior onda de violência registrada neste território palestino desde a Segunda Intifada.
Após sua vitória nas eleições legislativas de 1º de novembro, seguida de semanas de negociações com seus aliados dos partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, Netanyahu anunciou, na quarta-feira (21), ao presidente Isaac Herzog a formação de um governo. Será o mais à direita da história do país.
Nessa coalizão, os nomes de peso da extrema-direita Bezalel Smotrich e Itamar Ben Gvir serão responsáveis pelos assentamentos israelenses na Cisjordânia e pela Segurança Nacional, respectivamente.
Pelo menos três altos diplomatas ocidentais compartilharam com a AFP sua preocupação com a chegada de Ben Gvir ao comando da Polícia, que inclui unidades da força paramilitar da polícia de fronteira destacadas na Cisjordânia.
Uma série de ataques já causou mais de 20 mortes em Israel. As incursões israelenses e os confrontos deixaram mais de 150 mortos na Cisjordânia, nos eventos mais mortais desde o fim da Segunda Intifada (2000-2005), um levante palestino contra a ocupação israelense, segundo dados da ONU.
Cisjordania sob tensão
Nas últimas semanas, a imprensa israelense enfatizou o risco de existir “dois” exércitos na Cisjordânia: o Exército, propriamente dito, e a Polícia de Fronteira.
Segundo o analista palestino Khaldoun Barghouti, a questão não é a estrutura das forças israelenses na Cisjordânia, mas sim a expansão das colônias, ou a anexação de territórios.
“As medidas de Ben Gvir e Smotrich destruirão a possibilidade de um Estado palestino. Isso levará os palestinos a mais desespero (…) o que acontecerá no terreno determinará a natureza da escalada”, acrescenta.
Mais de 475 mil colonos vivem atualmente na Cisjordânia ocupada, assentamentos que, de acordo com a ONU, ameaçam a solução de dois Estados: uma Palestina independente e estável ao lado de Israel.
Smotrich já anunciou, porém, seu projeto de legalizar todas as colônias ditas “selvagens”, ou seja, aquelas que não têm nem o reconhecimento de Israel.
Os Estados Unidos, o primeiro aliado de Israel, vão-se opor a “qualquer ato que prejudique as perspectivas de uma solução de dois Estados”, como “expansão de assentamentos, movimentos em direção à anexação da Cisjordânia, alteração do ‘status quo’ histórico dos lugares sagrados”, alertou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.
Terceiro lugar sagrado do Islã e o mais sagrado do judaísmo, sob o nome de Monte do Templo, a Esplanada das Mesquitas é um grande centro de tensões em Jerusalém Oriental. Conforme seu “status quo” histórico, os não muçulmanos podem estar na Esplanada, mas não rezar.
“Se Ben Gvir conseguir convencer Netanyahu, ou ordenar à polícia que mude a conduta dos cidadãos israelenses no Monte do Templo, isso levará a uma Terceira Intifada”, advertiu o ministro em final de mandato da Segurança Pública, Omer Barlev.
Em maio de 2021, as tensões em Jerusalém, especialmente na Esplanada, levaram o movimento islâmico palestino Hamas a lançar salvas de foguetes do enclave de Gaza em direção ao território israelense, o prelúdio para uma escalada mortal entre os dois lados.
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