O governo do Reino Unido continua inflexível nesta terça-feira (20) com as greves que afetam muitos setores, desde o pessoal de enfermagem até as ambulâncias, para protestar contra as consequências do aumento de preços.
Com uma inflação superior a 10% em 12 meses, diversos setores – trabalhadores ferroviários, de logística, motoristas de ambulância, policiais de fronteiras, funcionários de aeroportos – decidiram fazer uma paralisação neste fim de ano e, também, no início de janeiro.
Nesta quarta-feira (21) será a vez de milhares de motoristas de ambulância, que reivindicam um aumento salarial, uma greve preocupante pelas repercussões que pode ter nos hospitais.
O governo mobilizou cerca de 750 soldados para substituir os motoristas de ambulância em greve.
Em entrevista à BBC, o secretário de Saúde, Will Quince, pediu que os britânicos evitem as “atividades de risco”, como correr em uma estrada gelada, os esportes de contato e, inclusive, um passeio “desnecessário” em automóvel.
Um funcionário do Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês) pediu, por sua vez, “medidas sensatas”, entre elas “beber de forma responsável”.
“Muitos dirigentes do NHS nos dizem que não podem garantir a segurança dos pacientes no dia de amanhã”, quarta-feira, advertiu Matthew Taylor, responsável da NHS Confederation, que representa os hospitais da Inglaterra.
“Está claro que estamos entrando em um terreno perigoso”, escreveu o primeiro-ministro Rishi Sunak em uma carta.
Reunião ‘desnecessária’
O ministro da Saúde, Steve Barclay, se reuniu nesta terça com os sindicatos, mas não avançou na busca por uma solução.
“É decepcionante que alguns sindicatos continuem com a greve; minha porta segue aberta para novas conversas”, tuitou o ministro após a reunião.
Mas Onay Kasab, responsável do sindicato Unite, classificou o encontro de “totalmente desnecessário”, depois que o ministro “se recusou” a falar sobre salários.
“Como ele espera que a situação evolua para a solução do conflito sem debater a questão principal?”, questionou.
Mobilização de enfermeiras
Nesta terça, o pessoal de enfermagem se mobilizou para o segundo dia de greve, após a paralisação da última quinta-feira.
Eles seguem em greve na tentativa de conseguir um aumento substancial, após anos de aperto em um sistema público de saúde com um déficit crônico.
As enfermeiras, que fazem uma greve pela primeira vez em mais de 100 anos de história de seu sindicato, se transformaram em símbolo da crise do aumento do custo de vida.
“Não é só o salário, são as condições de trabalho”, “o atendimento ao paciente”, explicou à AFP Emily, enfermeira em Liverpool (norte), ao afirmar que um grande número de trabalhadores está abandonando a profissão.
Os profissionais de enfermagem contam com forte apoio público porque estiveram na linha de frente durante a pandemia de Covid-19 e estão sofrendo uma crise que afeta, há bastante tempo, o respeitado sistema público e gratuito de saúde.
De acordo com uma pesquisa do YouGov publicada nesta terça, dois terços dos britânicos apoiam a greve do pessoal de enfermagem, e 63%, a dos funcionários de ambulâncias. Já as paralisações no setor ferroviário têm o apoio de 43%.
Esta popularidade está pressionando o governo conservador, que até agora se mostrou inflexível e se recusa a elevar em 4,75% os salários dos enfermeiros este ano, como recomenda uma organização de especialistas, e, inclusive, a negociar diretamente.
“Reconheço que é difícil. É difícil para todos, porque a inflação está onde está”, disse Rishi Sunak aos líderes da comissão parlamentar nesta terça.
“A melhor maneira […] de ajudar a todos no país é colocar a mão na massa e reduzir a inflação o quanto antes”, garantiu.
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