A Rússia se prepara para uma longa guerra contra a Ucrânia, a quem a Otan continuará fornecendo armas até que o presidente Vladimir Putin entenda que “não pode vencer no campo de batalha”, declarou à AFP, nesta sexta-feira (16), o titular da aliança, Jens Stoltenberg.
Quase dez meses depois da invasão russa da Ucrânia, as forças de Kiev infligiram uma série de derrotas a Moscou que permitiram recuperar partes do território ocupado. Mas “nada indica que Putin tenha renunciado a seu objetivo de controlar a Ucrânia”, advertiu o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e ex-primeiro-ministro da Noruega.
“Não devemos subestimar a Rússia. Ela se prepara para uma longa guerra”, declarou Stoltenberg à AFP. “Vemos que está mobilizando mais forças, que está disposta a sofrer muitas perdas, e tenta ter acesso a mais armas e munições”, destacou.
“Devemos entender que o presidente Putin está disposto a permanecer nesta guerra por muito tempo e a lançar novas ofensivas”, afirmou.
Os países da Otan, liderados pelos Estados Unidos, forneceram à Ucrânia bilhões de dólares em armas que ajudaram suas forças a resistir à Rússia.
“O mais provável é que esta guerra termine na mesa de negociação, como a maioria das guerras”, assinalou Stoltenberg.
Qualquer solução terá que garantir que “a Ucrânia prevaleça como nação soberana e independente”, insistiu.
“A forma mais rápida de conseguir isso é através do apoio militar, para que o presidente Putin compreenda que não pode vencer no campo de batalha, e que deve se sentar para negociar de boa-fé”, frisou.
Acelerar a produção
Depois dos reveses sofridos no terreno, a Rússia lançou bombardeios em série de mísseis e drones contra a infraestrutura energética civil.
Segundo fontes americanas, Washington está finalizando os planos para enviar baterias de mísseis Patriot mais avançados à Ucrânia, que se juntariam aos outros sistemas de defesa aérea ocidentais já fornecidos para Kiev.
Stoltenberg declarou que “uma discussão está em curso” para o fornecimento dos Patriot, mas ponderou que os países da Otan devem garantir que haja munição suficiente e peças de reposição para que as armas enviadas até agora continuem funcionando.
As demandas de armas da Ucrânia esgotaram as reservas de membros aliados e existe o temor de que as indústrias de defesa da aliança militar não consigam produzir em quantidade suficiente.
“Aumentamos nossa produção com esse objetivo preciso, para podermos reconstituir simultaneamente as nossas próprias reservas para dissuasão e defesa, e seguir oferecendo nosso apoio à Ucrânia no longo prazo”, afirmou Stoltenberg.
Momento decisivo
A invasão da Ucrânia por Putin causou comoção no Ocidente. Obrigou a Otan a realizar sua maior adaptação desde o fim da Guerra Fria, com um reforço significativo de seu flanco oriental. Além disso, Finlândia e Suécia se sentiram pressionadas a pedir adesão à aliança militar.
“É a crise de segurança mais perigosa que vivenciamos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”, afirmou Stoltenberg. “É um momento decisivo”, frisou.
O político norueguês detalhou que, apesar das ameaças nucleares de Putin terem diminuído ultimamente, a Otan permanece em alerta “e vai monitorar constantemente o que [os russos] estão fazendo”.
“A retórica nuclear, com as referências à utilização potencial de armas nucleares, é imprudente e perigosa”, assinalou o secretário-geral da Otan.
“Seu objetivo é, certamente, dissuadir-nos de apoiar a Ucrânia, mas [Putin] não vai conseguir”, acrescentou.
O mandato de Jens Stoltenberg como titular da Otan foi renovado por um ano em março e termina no fim de 2023. O ex-primeiro-ministro norueguês, de 63 anos, não detalhou se vai deixar definitivamente o cargo no ano que vem. “Não tenho outros projetos”, afirmou.
Stoltenberg tampouco quis comentar os pedidos de alguns aliados para a indicação de uma mulher para sucedê-lo, o que seria inédito para a aliança.
“Meu objetivo é cumprir minhas responsabilidades como secretário-geral da Otan para que a aliança permaneça unida”, declarou. “Esta é minha única preocupação e deixo para os chefes de Estado e de governo a decisão sobre quem vai me suceder”, concluiu.
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