A justiça da Alemanha anunciou nesta quarta-feira (7) ter frustrado os planos de um pequeno grupo de extrema-direita que planejava atacar as instituições democráticas do país, incluindo o Parlamento.
A polícia prendeu 25 pessoas, duas delas na Áustria e da Itália, entre as quais estavam um aristocrata alemão, um ex-deputado de extrema-direita e uma russa, além de vários ex-militares.
O desmantelamento ocorreu graças a uma ampla operação em todo o país, que mobilizou cerca de 3 mil agentes e resultou em mais de 130 operações de busca.
Os detidos são suspeitos de “ter feito preparativos concretos para entrar de maneira violenta na Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento) com um pequeno grupo armado”, informou o Ministério Público por meio de um comunicado.
O pequeno grupo “dotou-se de um conselho com pessoas já designadas para algumas pastas ministeriais (…) e de um braço militar com um novo exército alemão”, declarou o procurador antiterrorista Peter Frank, durante uma coletiva de imprensa em Karlsruhe, no oeste da Alemanha.
A célula, “fundada no mais tardar no final de 2021”, tem “como objetivo superar a ordem estadual existente na Alemanha e substituí-la por uma forma de Estado própria”, informou o comunicado do MP de Karlruhe, responsável por casos que afetam a segurança do Estado.
O projeto só podia ser executado “com o uso de meios militares e violência contra os representantes do Estado”, acrescentou.
Segundo a imprensa alemã, esta foi a maior operação policial do tipo realizada na Alemanha.
Além dos 25 detidos, outras 27 pessoas estão sendo investigadas por suspeitas de integrar a célula criminosa, informou o MP.
As autoridades da Alemanha classificaram nos últimos anos a violência de extrema-direita como a principal ameaça à ordem pública, à frente do extremismo islâmico.
Há alguns meses, as autoridades desmantelaram um pequeno grupo de extrema-direita suspeito de planejar atentados no país e o sequestro do ministro da Saúde, que implementou as medidas restritivas de combate à covid.
“Cidadãos do Reich”
O Presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, manifestou “profunda preocupação” com a existência do grupo e considerou que este “subiu um degrau” no que diz respeito à ameaça da extrema-direita violenta.
A operação tem como alvo o movimento “Reichsbürger” (Cidadãos do Reich, em alemão). Os integrantes não reconhecem as instituições, não obedecem à polícia e nem pagam impostos.
Os membros do grupo estão “unidos por um profundo repúdio às instituições do Estado e à ordem fundamental liberal e democrática da República Federal da Alemanha, que fez crescer neles, ao longo do tempo, a decisão de participar de sua eliminação pela violência e participar de atos preparatórios concretos para este fim”, afirmaram os procuradores federais.
A Alemanha calcula que quase 20 mil pessoas abraçaram esta ideologia e que parte do grupo se radicalizou – o que inclui negacionistas e muitos que defendem o uso da violência.
Os integrantes do grupo desmantelado também estão familiarizados com as teorias do movimento conspiracionista QAnon, grupo de extrema-direita que nasceu nos Estados Unidos, segundo o MP.
Tentativas de contato com a Rússia
A justiça informou que os líderes do grupo se chamam “Henri XIII P. R.” e “Rüdiger v. P.”.
A imprensa alemã identificou o primeiro como o príncipe de Reuss, descendente de uma linhagem de monarcas da região de Turíngia, no leste do país.
O segundo é um ex-tenente coronel do exército alemão, que liderou um comando de paraquedistas na década de 1990 e fundou outro comando das unidades especiais.
Outro membro de destaque foi a russa “Vitalia B.”, identificada pelos meios de comunicação da Alemanha como a namorada de “Henri XIII”.
De acordo com os procuradores, um dos integrantes do grupo tentou entrar em contato com “representantes da Federação da Rússia na Alemanha”.
As investigações realizadas até agora, no entanto, não indicam uma resposta dos interlocutores russos aos pedidos.
A embaixada da Rússia em Berlim negou qualquer vínculo com este tipo de organização.
“As representações diplomáticas e consulares russas na Alemanha não têm qualquer contato com representantes de grupos terroristas ou de qualquer outra formação ilegal”, afirmou a embaixada, segundo as agências de notícias estatais russas Ria Novosti e Tass.
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