Cada gato espalhado por aí possui particularidades, é único. Mas, existem algumas características físicas que podem ser observadas em mais de um bichano, como é o caso daquela “pelanquinha” na barriga. Você já viu?
A médica-veterinária e coordenadora do Centro Cirúrgico do Veros Hospital Veterinário, Bruna Mutt de Macedo, informa que ela se chama Bolsa Primordial. “Trata-se de uma pele solta na região da barriga dos gatos, que pode estar mais evidente ou não, dependendo do animal”, explica.
Algumas pessoas acreditam que apenas os gatos castrados apresentam essa “pelanquinha”, mas Bruna garante que o procedimento cirúrgico de castração não afeta a bolsa primordial. “Porém, as alterações hormonais causadas após esse procedimento podem levar ao aumento de peso e, com isso, o acúmulo de gordura na região da bolsa, dando a impressão de estar maior”, revela.
Além disso, essa bolsa, segundo a veterinária, começa a se desenvolver a partir dos seis meses de idade, coincidindo com a idade aproximada de realização das castrações, fator responsável pela associação do seu aparecimento com o procedimento de castração. “E, ainda, tanto os gatos machos, quanto as fêmeas, possuem a bolsa primordial, sendo algumas mais proeminentes do que outras. No entanto, não tem relação com o sexo do animal, podendo, sim, ter associação com algumas raças de gatos, peso e idade”, frisa.
A veterinária comenta que o tamanho da bolsa primordial também pode estar associado à genética. “Algumas raças são conhecidas por terem a bolsa mais proeminente e predispostas a manifestá-la, pois são, geneticamente, mais próximas aos ancestrais selvagens. Alguns exemplos dessas raças são: Bengal, Bobtail Japonês, Mau egípcio e Pixie Bob. Todas essas raças surgiram de cruzamentos de gatos domésticos com gatos selvagens ou originários dos primeiros gatos domesticados. Algumas misturas de raças, ou seja, gatos sem raça definida, podem ter tamanhos variados da bolsa e, em outras raças, ela é quase inexistente”, adiciona.
Para que serve?
A bolsa primordial é uma aba, na região abdominal, composta de pele extra solta e tecido adiposo (gordura) em que todos os gatos possuem, não só domésticos, mas os selvagens também, segundo Bruna. “Dependendo da raça, tamanho e peso do animal, ela pode ser mais evidente ou não, como mencionei anteriormente. Gatos com sobrepeso podem ter a bolsa primordial mais evidente, pelo acúmulo de gordura. Também, com o avanço da idade, por perda da elasticidade da pele, fazendo-a ficar mais proeminente em gatos mais velhos”, acrescenta.
Segundo Bruna, existem algumas teorias sobre a função da bolsa primordial dos gatos e são elas: “Proteção dos órgãos vitais, para evitar ferimentos graves em brigas, utilizando as garras e dentes, sendo útil em situações de combate; flexibilidade, pois o excesso de pele nessa região permite maior extensão do corpo para saltar, mexer, correr e torcer o corpo; reserva de energia pela elasticidade da bolsa primordial, permitindo que o abdômen se expanda, armazenando maior quantidade de comida. Todas essas funções são heranças dos seus ancestrais, que permitiam que os felinos sobrevivessem em condições adversas e que os gatos domésticos carregam até hoje. A maioria deles não precisa mais dessa estrutura, por conta de sua domesticação, mas ainda trazem essa herança genética.
É obesidade ou “pelanquinha”?
No caso de gatos obesos, Bruna revela que a bolsa primordial não fica tão flexível e não balança livremente. “Contudo, a maneira mais eficaz para a diferenciação desses pacientes é a avaliação do escore de condição corporal do gato. Os pacientes em estado de condição corporal ideal não possuem excesso de gordura em outras regiões do corpo, além da região da bolsa primordial”, discorre.
A profissional ainda declara que gatos com obesidade podem ter acúmulo da gordura em outras regiões do corpo, sendo identificadas por meio da avaliação visual e da sua palpação. “Essa avaliação correta e diferenciação só poderá ser realizada pelo médico-veterinário”, conclui.