Natalia Ponse, da redação (natalia@ciasullieditores.com.br)
Se o seu cão ou gato apresenta mau-hálito, gengivas avermelhadas, sangramento gengival durante a escovação ou ao morder brinquedos, uma camada amarela/amarronzada e áspera na superfície dos dentes, tem dificuldade para mastigar alimentos mais duros ou está com os dentes “amolecidos”, atenção: esses são sinais clínicos para algum problema odontológico.
Isso porque a saúde dos pets, assim como a nossa, também começa pela boca. A falta de escovação dentária pode levar a graves problemas de saúde e a doença periodontal é o mais comum deles (atinge cerca de 85% dos cães e gatos adultos).
“Cães e gatos tendem a ‘esconder’ sinais de dor. Muitas vezes, os tutores não percebem que seus próprios pets estão com doenças bucais graves pelo fato de os animais não manifestarem, de forma evidente, que estão com dor. E quem já teve dor de dente sabe o quanto isso incomoda”, pontua a médica-veterinária odontologista do Centro Veterinário Nouvet, Mariana Suemi Fugita.
Ao identificar sinais suspeitos, como, também, o incômodo ao tocar a cavidade oral ou focinho, esfregar as patas na face e dificuldade para comer alimentos mais duros como ração, biscoitos e ossinhos, é importante que o tutor saia na frente do problema e procure ajuda profissional o mais breve possível. Afinal, negligenciar cuidados com saúde bucal pode levar à diminuição da qualidade de vida dos pets.
Mariana indica que uma boa rotina de escovação dentária (diariamente, assim como com os humanos) é importante para evitar a doença periodontal (gengivite, tártaro, halitose, perda do osso que sustenta os dentes) e suas consequências mais graves, como a entrada de bactérias da cavidade oral na circulação sanguínea, podendo atingir órgãos vitais como coração, fígado, rins, pulmões etc.
Identifiquei um ou mais destes sintomas. E agora?
Neste caso, é hora de buscar uma consulta odontológica com um médico-veterinário especializado em Odontologia. Este é o profissional mais indicado para fazer a avaliação da cavidade oral, chegar ao diagnóstico correto e indicar o tratamento mais assertivo.
As consequências de evitar procurar ajuda e adiar o cuidado com a saúde oral do seu pet são várias: perda dos dentes por infecção óssea, dor, desconforto para comer, perda de peso e, até mesmo, fratura de mandíbula, em casos mais graves.
Isto pode acontecer porque as bactérias da boca aderem-se à superfície dos dentes e de outros tecidos da cavidade oral, formando a placa bacteriana, conta a médica-veterinária. “Quando não removemos esta placa, há um aumento progressivo da quantidade de bactérias na boca, causando inicialmente inflamação da gengiva (gengivite). Com a cronicidade deste processo, sais minerais contidos na saliva aderem-se à placa, formando o tártaro (também chamado de cálculo dentário). Por ter uma superfície áspera, mais placa bacteriana adere-se ao tártaro, aumentando, ainda mais, a concentração de bactérias na cavidade oral”, explica.
Estas bactérias, que causavam, inicialmente, inflamação, passam a causar um processo de infecção, afirma Mariana, destruindo os tecidos de sustentação do dente, levando à perda óssea ao redor das raízes dentárias.
Ela ainda pontua os quatro estágios da doença periodontal, de acordo com as Diretrizes Dentárias Globais da World Small Animal Veterinary Association (WSAVA):
Estágio 1: Gengivite apenas, sem perda óssea ou retração gengival;
Estágio 2: Periodontite precoce; menos de 25% de perda do osso alveolar;
Estágio 3: Periodontite moderada – 25-50% de perda do osso alveolar;
Estágio 4: Periodontite avançada; mais de 50% de perda do osso alveolar.
Cães de raças pequenas costumam ser mais suscetíveis a problemas dentários, ressalta a profissional. Animais com alguma doença pré-existente (doenças endócrinas, infecciosas, renais, cardíacas etc.) também podem ter seu sistema imunológico mais debilitado, podendo apresentar doença periodontal mais precocemente.
“O tratamento indicado para o problema é o tratamento periodontal, que consiste na raspagem e polimento dentários para remoção de placa bacteriana e tártaro, curetagem óssea para remoção de focos de infecção e extração dentária para casos mais graves de perda óssea”, diz e acrescenta: “Para alguns casos específicos, há, também, a possibilidade do uso de enxerto ósseo para recuperação do osso alveolar. De qualquer forma, o médico-veterinário especializado em Odontologia é o profissional mais indicado para determinar e realizar estes tratamentos da forma mais correta”.
Dá para prevenir estes problemas – e isso começa bem cedo
A escovação dentária, diariamente, além de consultas pelo menos uma vez ao ano com o médico-veterinário odontologista para avaliação da cavidade oral, é uma estratégia essencial para a manutenção de uma boa saúde bucal, pontua Mariana.
Para acostumar o animal ao processo de escovação, ela indica que o tutor dê importância à escovação desde quando o animal é um filhote, o que ajuda na prevenção para que a doença periodontal não atinja estágios avançados. Junto a isso, incluir no plano de cuidados bucais a visita periódica ao médico-veterinário especializado em odontologia.
“De forma geral, os animais mais jovens são mais suscetíveis à introdução de novos hábitos e habilidades em comparação com os mais velhos”, resume. Mariana também esclarece que a introdução da rotina de escovação dentária quando filhote é muito benéfica para que o cuidado com a saúde oral seja focado na prevenção de doenças desde cedo. “A escovação dentária de cães e gatos pode começar quando ocorre a troca dos dentes de leite pelos dentes permanentes, até aproximadamente o 7º mês de vida”, complementa.
Na prática, como acostumar meu pet aos cuidados bucais?
Esse processo pode ser iniciado acostumando os filhotes a terem a boca manipulada por meio de brincadeiras e carinho. “Nunca repreenda o pet durante a escovação para que ele não associe este momento com uma sensação desagradável”, salienta.
A profissional orienta iniciar a escovação antes da troca dos dentes permanentes, para acostumá-los com a manipulação bucal, com o uso de cerdas macias e pastas específicas para os pets, com sabores que seu animal goste. A seguir, confira algumas dicas da médica-veterinária:
- Devemos nos atentar ao tamanho da escova e ao tipo de cerdas. Pode-se utilizar escovas de uso humano para os pets, mas o tamanho varia de acordo com o tamanho do pet;
- As cerdas recomendadas são as macias ou ultra-macias.
- Escovas com cabo longo facilitam o alcance dos dentes que ficam mais no fundo da boca, o que ajuda muito no caso de cães de raças maiores e focinho comprido;
- Para os cães de raças pequenas e gatos, podemos utilizar escovas dentais de uso humano, infantis ou para bebês.
- As pastas de dentes específicas para pets, diferente das utilizadas por humanos, são comestíveis. Não devemos utilizar pastas de uso humano para os pets, pelo risco de intoxicação e gastroenterite. Muitos cremes dentais de uso veterinário têm sabores palatáveis (como frango e carne), que ajudam a escovação a se tornar um momento mais agradável para os pets.
“Escovação dentária ainda é o melhor método de prevenção para doenças bucais, tanto para humanos quanto para os pets”, indica Mariana Suemi Fugita (Fotos: divulgação)
“O momento da escovação dentária deve sempre ser acompanhado pelo reforço positivo, ou seja, o pet deve receber uma recompensa sempre que permitir a escovação. Elogios, palavras de incentivo, carinho, petiscos, passeios ou brinquedos são ótimos exemplos de recompensas que aumentam muito as chances do pet aceitar bem a escovação”, define Mariana.
É comum encontrar no mercado muitos produtos que auxiliam nesse cuidado; mas, ela alerta: eles devem ser usados como complemento à escovação dentária diária. Afinal, pontua, nenhum produto faz milagre sozinho, sem a escovação.
“Se, realmente, existisse algum produto ‘mágico’ que evitasse a formação do tártaro ou, até mesmo, fosse capaz de removê-lo dos dentes, provavelmente nós, seres humanos, já estaríamos fazendo uso deles para não precisarmos ir ao dentista regularmente. O mercado de Odontologia para humanos é infinitamente maior que o mercado de Odontologia para pets. Portanto, não há milagre. Escovação dentária ainda é o melhor método de prevenção para doenças bucais, tanto para humanos quanto para os pets”
Mariana Suemi Fugita, médica-veterinária Odontologista
Portanto, os cuidados diários à saúde bucal do seu pet junto às consultas periódicas, pelo menos uma vez ao ano, com um médico veterinário especializado em Odontologia para avaliação da saúde oral, são a estratégia indicada para proteger seu melhor amigo de problemas futuros.
“Quando reconhecidas precocemente, podemos tratar as doenças bucais de forma eficaz e trazer mais qualidade de vida aos pets”, finaliza a médica-veterinária.