Será que Deus lhe deu a responsabilidade de cuidar de cristãos mais jovens que vivem longe de si? Se sim, pode aprender muito com Paulo e os Filipenses! Paulo estava lá quando os filipenses se tornaram cristãos (Atos 16:11-34), mas logo foi forçado a deixar estes jovens discípulos para trás (Atos 16:35-40). Da carta que lhes escreveu, como Paulo encorajou os seus próprios discípulos de longa distância a “permanecerem firmes num só espírito, batalhando como um só homem pela fé do evangelho” (Filipenses 1:27), vivendo de todo o coração para Cristo “não só na minha presença, mas muito mais agora na minha ausência” (2:12)?
Amor profundo e empenho
Assim que os filipenses abriram a carta, sentiram o profundo amor e o empenho de Paulo para com eles a brilhar. Os parágrafos iniciais, especialmente, estão repletos de temas calorosos de “alegria”, “parceria” e gratidão porque “todos vós partilham da graça de Deus comigo”. Talvez, por vezes, precisemos de aprender a ser menos reservados e a expressar mais a nossa afeição por aqueles que nos admiram como mentores espirituais? Tal como Paulo, alegremo-nos não só com a obra de Deus nas nossas vidas, mas também com cada novo passo de fé que os nossos “discípulos” dão com Ele!
Ore regularmente
Este tom encorajador flui para (ou talvez flui de dentro) da oração de Paulo pelos filipenses (Filipenses 1:9-11). Paulo não só orava regularmente pelos seus discípulos, como também lhes dizia especificamente o que estava a orar: não para seu próprio benefício, para ser considerado especialmente santo; mas para benefício deles, para lhes assegurar que eles e o seu progresso cristão continuavam a ser o seu verdadeiro deleite e paixão. Tal como Paulo, também nós devemos orar pelos nossos “discípulos” regularmente e dar-lhes a conhecer isso.
Mentalidade cristã madura
A parceria de oração de Paulo com os Filipenses não era apenas unilateral. Continua o capítulo 1 partilhando dificuldades pessoais que está a enfrentar para seguir a Cristo; novamente, não para se colocar num pedestal, mas para os encorajar, pois o Espírito Santo realmente o fortaleceu em todas as dificuldades, em resposta às suas orações (Filipenses 1:19). Além disso, como os próprios filipenses estavam a passar pelas mesmas lutas que ele, Paulo sabia que também eles precisavam de cultivar a mesma mentalidade cristã madura (Filipenses 1:29-30). Que melhor forma de desenvolver isto do que ensinando pelo exemplo?
Contudo, sem negar o seu próprio papel significativo, dado por Deus, no crescimento espiritual deles, Paulo sabia que tudo o que finalmente acontecesse com ele seria secundário (Filipenses 1:27); em última análise, a fé e a fidelidade dos filipenses não dependiam de Paulo, mas de “Deus, que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (2:13). Esta verdade humilhante e libertadora liberta-nos de sermos possessivos em relação aos “nossos discípulos”, capacitando-nos a apontar para longe de nós mesmos e para outros modelos, como Paulo fez no capítulo 2, recomendando também os exemplos de Timóteo (2: 19-24), Epafrodito (2:25-29), e o próprio Jesus Cristo (2:5-11).
Ser muito orgulhoso
A história de Epafrodito mostra-nos que Paulo estava disposto tanto a dar (2:25) como a receber (2:30) apoio prático dos filipenses… mais uma vez, não para seu próprio proveito pessoal, mas porque, a longo prazo, Paulo sabia que deixar que os filipenses o ajudassem seria benéfico para eles (Filipenses 4:10-18). Da mesma forma, podemos recordar como Jesus aceitou ajuda de outros: os Seus discípulos trouxeram-Lhe comida (João 4:31); mulheres ricas sustentavam financeiramente o Seu ministério (Lucas 8:3); e quando a pobre viúva foi ao tesouro do templo para dar “tudo o que tinha para viver”… Jesus permitiu (Lucas 21:1-4). Por isso, não tenhamos demasiado orgulho em deixar que os nossos “discípulos” nos sirvam, tanto partilhando pedidos de oração como de outras formas práticas. A verdadeira humildade também recebe.
Defendendo apaixonadamente
O capítulo 3 de Filipenses mostra-nos o outro lado da moeda da linguagem terna de Paulo nos capítulos 1 e 2, nas suas fortes advertências contra os falsos mestres. O discipulado cristão autêntico nunca é sentimental. Tal como Paulo, também nós devemos estar prontos para proteger as ovelhas de Cristo dos lobos (3:1). Não os defender apaixonadamente quando estão em perigo é não os disciplinar de uma forma que honre Cristo; é uma falta de amor.
Aplicar o evangelho ao coração
Por fim, devemos aprender com Paulo a ir além das questões pastorais superficiais para aplicar o evangelho ao coração. Repare como estrutura 3:1-4:1. Começa e termina da mesma forma, focando-se no “fruto” que Paulo quer ver nas suas vidas (manter-se firmes e alegres). Mas o “fruto” na vida cristã não vem ao focar o “fruto” em si, mas ao regar a “raiz”. Indo mais a fundo na passagem, os versículos 2-3 refletem os versículos 17-21, contrastando a mentalidade cristã com a dos falsos mestres; depois, os versículos 4-6 refletem os versículos 12-16, contrastando a confiança do “velho” Paulo em si mesmo, com a confiança do “novo” Paulo em Cristo. Mas é o centro da passagem, versículos 7-11, que revela o poder por detrás desta mudança: as boas novas de que, pela fé em Jesus Cristo, somos considerados justos pela graça de Deus.
Só a graça! Da mesma forma, quando lidamos com os problemas pastorais dos nossos próprios discípulos, podemos ser tentados a focar-nos na falta de “frutos”. Contudo, devemos sempre lembrar que o comportamento cristão agradável a Deus vem somente de um coração transformado pelo evangelho.
Como Paulo diz noutro lugar: “Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a Deus e à palavra da sua graça; a ele, que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados.” (Atos 20:32). Quer os nossos “discípulos” vivam perto ou longe, a forma bíblica de os edificar é através do discipulado moldado pelo evangelho. Isso será sempre caro. Mas hoje, com os e-mails, os smartphones e as redes sociais, nunca foi tão fácil.