Somos nós que escolhemos nossos heróis. A mídia ajuda e as revistas semanais apontam os famosos da moda, tentando através de seus anúncios, fazer novos heróis de temporada. Você já percebeu como os heróis dos nossos dias são passageiros? Não temos referenciais duradouros. Quando você pensa em heróis, quais os nomes que lhe aparecem na mente?
Os heróis que eu escolhi são peregrinos. Eles entenderam os verdadeiros valores da vida. Escolheram construir pessoas; não coisas. Como um pastor me disse durante um final de semana de oração: “Deus me falou que eu deveria sempre amar pessoas e usar coisas. Nunca o contrário.”
Os heróis verdadeiros são assim. Diferente dos astros ricos e famosos dos nossos dias, na sua maioria, os heróis antigos eram pobres e abandonados no seu tempo. Eles sofriam porque buscavam o caminho certo, nunca o mais fácil. E influenciaram gerações por causa disto. Alguns deles, sozinhos, fizeram à diferença em nações inteiras. Aplicando o principio de que uma pequena faísca pode incendiar uma grande floresta, estes homens usaram da força do um. Sabiam o que era o certo e o fizeram.
A Bíblia tem a sua própria galeria da Fama. Ela talvez não reflita a “fama” terrena. Não está cheia de homens fortes e mulheres lindas com seus carros do ano, dentes perfeitos e gorda conta bancária. No tempo destes heróis bíblicos, eles nem mesmo eram queridos nas comunidades onde viviam. Se você vivesse nos seus dias, quem sabe nem mesmo ouvisse falar sobre alguns deles. Viviam escondidos e, quando apareciam, alguém logo se prontificava para persegui-los. Os heróis bíblicos eram incômodos, por isso, perseguidos. Mesmo assim, contra a opinião da maioria, Deus olhou para eles e os colocou na galeria da Fama. Leia com atenção os próximos versículos:
“Os quais pela fé venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram, puseram em fuga os exércitos dos estranhos. As mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos; uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição; E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra”. (Hebreus 11. 33-38)
O autor começa falando dos patriarcas e de tudo o que eles fizeram pela fé. De como Abrão saiu sem saber para onde ia e todas as outras historias incríveis que a narrativa bíblica nos conta. Mas, aquilo que penetra profundamente no meu coração, está nos últimos versículos. Quando o autor começa a me contar que pessoas decidiram morrer para alcançar uma ressurreição superior e que, por causa de sua fé, sofreram açoites e prisões, começo a imaginar o tipo de amor que ocupava a vida de homens assim. Eles não estavam buscando nada além do Reino, talvez por isso, as coisas desta vida pareciam sem importância. Andavam vestidos de peles, não de mantos caros. Viviam nas cavernas e mesmo assim, eram os homens mais queridos por Deus. O mundo, muitas vezes, não os via. Enquanto estavam nas catacumbas romanas, pregando no subsolo do império, poucos se davam conta de sua existência. Somente quando eram mortos no Coliseu Romano recebiam um pouco de atenção. Mesmo assim, repito, Deus os chama de Heróis.
Eram homens que não compartilhavam do “espírito de sua época”. Mesmo vivendo em meio à corrupção e imoralidade generalizada do Império, eles tinham suas vidas escondidas em Deus. Por isso o mundo não era digno deles. Será que ainda podemos achar pessoas das quais o mundo não é digno? Sem dúvida. Nos nossos dias ainda vivem pessoas que obedecem a uma ética superior. Elas não vivem o “olho por olho, dente por dente”, que tem regido a humanidade por gerações. Quando ofendidas, perdoam. Quando ameaçadas, decidem orar. Coisas assim soam como loucura aos ouvidos de uma geração que têm provado de um mundo perverso. Nem por isso deixam de ser verdadeiras. Este mundo não é digno dos peregrinos porque eles não andam segundo os seus “brutais costumes”, mas obedecem à lei do Amor. Quando Jesus diz:
“Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;” (Mateus 5.39)
Ele começa uma revolução na mente de seus ouvintes. Esta mensagem estava sendo pregada em uma nação que havia vivido por séculos a “Lei de Talião”. Todas as nações em volta seguiam esta lei. Seus pais haviam vivido baseados nesta regra geral de justiça e esperava-se que seus filhos a respeitassem também. No entanto, quando Jesus prega esta nova verdade, o convite para a não-violência e o perdão, isto é um choque para todos. Mas, na verdade, o maior impacto aconteceu quando Jesus, o mesmo homem que as multidões viram curando enfermos e ressuscitando mortos, decide entregar-se nas mãos dos seus inimigos e não resiste. Jesus não vivia a realidade cruel das regras deste mundo, seu código de vida era do tipo do Reino.
A lei do amor instituída pela vida e pregação do Reino em Jesus contaminou aqueles homens radicais dos primeiros dias e causou uma avalanche no Mundo inteiro. Os “homens do qual o mundo não é digno” escolheram viver uma vida para Cristo e morrer para os costumes de sua época. Escolheram o caminho estreito e difícil, como heróis fazem, e provaram tempos difíceis. Os versículos em Hebreus 11 nos mostram o tipo de sofrimento e provações que experimentaram: torturas; escárnios e açoites; cadeias e prisões; foram apedrejados; serrados; tentados; mortos ao fio da espada; vestidos de peles; desamparados; aflitos; maltratados; errantes pelos desertos e cavernas da terra.
Eles realmente não tinham nada do que se orgulhar, no que diz respeito às riquezas e a glória que este mundo tem para oferecer. Eram homens de dores como o Mestre tinha sido e heróis, como Ele os ensinou a ser. Mesmo com todas as dificuldades, eles: venceram reinos; praticaram a Justiça; alcançaram promessas; fecharam a boca de leões; apagaram a força do fogo; escaparam da espada; da fraqueza tiraram força; esforçaram-se na batalha; botaram exércitos para correr; mulheres receberam seus mortos pela ressurreição.
Tudo isto nos mostra que ser um cristão de verdade não está ligado as nossas circunstâncias, ambiente, classe social, educação ou respeito de ninguém. Ser cristão é sobre escolher fazer o que deve ser feito. É levar até as ultimas conseqüências o nosso amor pelo Reino. Diante destes homens no céu, nenhuma das suas desculpas fará efeito. Diante de Jesus, no trono, nada do que você possa dizer lhe servirá de livramento por não ter vivido 100% daquilo que Deus planejou para sua vida.
Uma grande nuvem de Testemunhas
“Portanto nós também, pois que estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com paciência a carreira que nos está proposta” (Hebreus 12.1).
Existe pouca explicação a ser dada sobre este ‘”gritante” versículo de hebreus 12. Não existe como fugir da realidade de que “somos os responsáveis por nossa própria corrida”. Quando leio estes versos da Bíblia posso imaginar os heróis da promessa, reunidos em uma nuvem, a assistir nossa performance na terra, como cristãos. Não, isso não está na bíblia. Mesmo assim, o autor da carta aos Hebreus me garante que estou cercado de uma grande nuvem de testemunhas e, diferente de algumas pessoas, eu sei que elas não são simplesmente as pessoas do meu “tempo”. As testemunhas são os grandes heróis, homens e mulheres sujeitos as mesmas paixões que eu, que correram e terminaram a carreira.
Eu preciso deixar de me embaraçar com as coisas deste mundo. Isso se realmente estou interessado em ser um peregrino. Todos os nós de envolvimento com o pecado devem ser desfeitos e toda tentativa de lançar os fundamentos aqui deve ser abortada. Só existe um fundamento, um caminho, uma maneira de ser feliz. Não posso vender a minha fé no mundo vindouro por um prato de comida quente desta terra estranha. Preciso correr com paciência.
Quando você é pastor, encontra as historias mais diferentes do mundo sempre a sua porta. As tragédias familiares misturam-se com as diferenças de temperamento e cada pessoa tem uma reação diferente, mesmo com situações parecidas. Entramos em contato com pessoas feridas na alma, vítimas de abusos e maus tratos, que não conseguem se levantar e viver a vida que lhes foi preparada por Deus. Ainda outros que cresceram em lares privilegiados e estudaram em boas escolas, encontram na riqueza a desculpa para não “brilharem”. Transformam-se em parasitas da unção, sempre recebendo, nunca derramando. Existem as vítimas da sociedade, da família, do trabalho, até da genética! Cada um de nós, com uma boa desculpa preparada caso nossas vidas não sejam exemplos de comunhão com Deus.
“Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado”. (Hebreus 12.4)
A verdade é que não importa quem somos. Podemos vencer todas as adversidades, no poder do nome de Jesus, e servi-lo tão bem quanto qualquer um dos heróis de Hebreus 11. Não temos desculpa para parar. Como disse no começo deste capitulo, os verdadeiros peregrinos encontram a força do um. Eles se tornam a influência e sozinhos mostram a direção. Por quê? Simplesmente foram influenciados pela Verdade e viram com seus olhos o Caminho. É desta Força do um que precisamos hoje. Sem ela, seremos uma boiada perdida. Um povo com mentalidade de rebanho, indo aonde esta geração esperta e corrupta nos levar. Alguém precisa ir contra a correnteza.
A maioria das pessoas abandona a igreja por razões pequenas. Nenhuma delas tem uma razão segura e certa para abandonar aquilo que, um dia, lhes ofereceu abrigo e a palavra da salvação. Nenhum desviado ficou mais feliz depois de arrancar suas raízes espirituais. Deus espera de nós coisa melhor do que isto. Ele quer que você, agora mesmo, seja cheio da convicção de que foi chamado com um propósito. Não perca de vista o seu chamado e corra sempre para mais perto de Jesus. Aos olhos dele, heróis são aqueles que nunca desistem. Corra com paciência e, ao final da corrida, receba o seu prêmio com alegria, na presença do Cordeiro.
“Contudo, quem é capaz de completar a lista dos santos? Temos com eles uma divida de gratidão extremamente grande para ser compreendida- profetas, apóstolos, mártires, reformadores, estudiosos e interpretes, hinistas e compositores, mestres e evangelistas, sem mencionar incontáveis vezes aqueles milhares de almas sinceras e anônimas que mantiveram a chama da pura religião acesa mesmo nos tempos em que a fé dos nossos antepassados ardia de maneira pouco visível por todo o mundo”. (A.W Tozer)
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Autor: Rodrigo Arrais – O Pr. Rodrigo Aranha Arrais é um dos pastores da Igreja Batista do Angelim, em São Luis/MA, onde lidera a Rede de Missões, coordenando projetos de missões em todo o Brasil e em outras nações. Tendo dado seus primeiros passos no ministério ainda com 16 anos, mesmo jovem, acumula grande experiência ministerial sendo já a segunda geração de pastores na família. Ele e sua esposa Carla são apaixonados por Jesus que desejam ver milhares de jovens, como ele, descobrindo a alegria de ser cristão.