De quatro em quatro anos, o cenário se repete, ruas são decoradas, camisas amarelas são avistadas em cada esquina e a expectativa se espalha entre os brasileiros enquanto que se aproxima a disputa da Copa do Mundo. No dia da abertura do Mundial feminino, o ambiente é completamente diferente, ainda que pequenos indícios surjam dando a perspectiva de uma mudança cultural em relação ao futebol feminino no país.
A partir da ideia da Ministra do Esporte, a ex-atleta Ana Moser, considerou-se a possibilidade de ser adotado o ponto facultativo aos servidores federais.
Na tarde da última terça-feira (18), foi publicado no Diário Oficial de União a portaria que autoriza a mudança de horário para os trabalhadores federais. O Governo de Pernambuco e a Prefeitura do Recife seguiram a mesma orientção.
Esta será a primeira vez que a medida é adotada durante o Mundial Feminino, primeiro passo para se assemelhar ao que acontece nas edições masculinas. “É uma medida de equidade, garantindo aos servidores e servidoras que optarem por ver os jogos, o mesmo direito que tiveram na Copa do Mundo de futebol masculino”, informou em comunicado a ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.
Soraya Barreto, professora da UFPE e especialista em questões de gênero, esportes e mídia, cita que essas ações são fruto de muita luta travadas há anos pelas mulheres que estão no entorno do futebol. “As mudanças que estão acontecendo, elas têm muito a ver com os processos de lutas e conquistas de muitas mulheres que estão no meio do futebol. Mulheres que pesquisam, que jogam, apitam, enfim, há toda uma prerrogativa que tem a ver”, disse.
A comunicadora também deu um exemplo das diferenças de espaço que o futebol feminino tem e que começa a traçar novos momentos.
“Se você imaginar, por exemplo, o Guaraná Antártica é patrocinador do futebol feminino há 18 anos, igualmente com o masculino, mas só em 2019 que ele vai fazer uma publicidade falando nisso”. E sobre uma futura equiparação das modalidades, argumentou. “É uma construção longa, não vai ser do nada que essa cultura vai mudar. Já temos muitas conquistas, que são dessas mulheres que estão em vários espaços da cultura futebolística pautando isso, não é algo que mude do dia para a noite”, completou.
Escrita da própria história
Aos poucos, a Seleção Brasileira feminina vai tendo o reconhecimento que é necessário. Em 2019, pela primeira vez as mulheres tiveram um padrão exclusivo e desenhado para as suas necessidades e corpos. Na Austrália e Nova Zelândia, serão as protagonistas da própria história e não carregarão os feitos e pesos de outros.
“Não só pela primeira vez teremos um escudo próprio. Até 2015 as mulheres jogavam com o uniforme masculino e, em 2023, será a primeira vez que algumas atletas terão uma chuteira feita para o pé feminino, porque até então era uma chuteira genérica, feita para o pé masculino. Essa coisa do escudo, de não ter as cinco estrelas do masculino não remete a todo futebol brasileiro, não remete ao feminino, então é uma conquista muito simbólica, porque é um recomeço de uma reescrita da história, que durante tanto tempo as mulheres foram proibidas, afastadas e invisibilizadas”, declarou Soraya Barreto.
Essas ações da CBF dão mais conforto e o permitem o sentido de pertencimento para as atletas e para as mulheres que acompanham a Seleção no geral. “Futebol feminino é mais um tipo de futebol, então ele precisa ser privilegiado como um futebol de mulheres e não comparado ao dos homens ou de qualquer outro futebol. E é isso que a gente está ajudando a construir agora e que esse aumento da visibilidade, do consumo, e das equipes que vão participar são os frutos dessa luta”, complementou a pesquisadora.
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