Pesquisadora de Mato Grosso identificou contaminação por microplásticos nos peixes dos rios Amazônicos. O artigo publicado nos leva a uma reflexão sobre a responsbilidade ambiental urbana.
A poluição por plástico é uma problemática global que exige uma análise crítica da responsabilidade de todos os setores da sociedade, inclusive da população urbana. Embora o agronegócio seja frequentemente apontado como o principal causador de impactos ambientais, a pesquisa da professora Danielle Regina Gomes Ribeiro-Brasil, do Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas Aquáticos – Lecea, vinculado ao câmpus do Araguaia da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, revela a presença massiva de microplásticos em peixes de riachos amazônicos, um alerta de que a poluição proveniente dos centros urbanos também representa uma grave ameaça à biodiversidade.
O artigo escrito pela professora Daniela Gomes “Dos rios e mares à mesa: peixes contaminados” faz parte do relatório “Fragmentos da destruição: Impactos do plástico na biodiversidade marinha brasileira” , publicado pela Oceana Brasil. (Relatório completo disponível no final desta matéria)
Uma grave ameaça silenciosa
A contaminação por plástico afeta todo o planeta, desde ecossistemas terrestres até as profundezas oceânicas, impactando a vida marinha em diferentes níveis da cadeia alimentar. “A história do plástico no ambiente marinho começou a chamar atenção a partir de relatos anedóticos sobre o emaranhamento de espécies em itens de pesca e a presença de plásticos em praias remotas de ilhas isoladas“, explicam os pesquisadores Robson G. Santos e Ryan Andrades. Atualmente, o problema se intensificou, com a proliferação de microplásticos, fragmentos minúsculos que são facilmente ingeridos pela fauna, causando danos à saúde e colocando em risco a sobrevivência de diversas espécies.
No Brasil, a maioria dos estudos sobre microplásticos se concentra em ambientes marinhos, com foco na análise de espécies como ostras, mexilhões e tartarugas marinhas. A pesquisa da professora Ribeiro-Brasil se destaca por investigar a contaminação em peixes de água doce, um tema ainda pouco explorado no país. Seu estudo, publicado em 2020, analisou 68 peixes de 14 espécies diferentes coletados em 12 riachos amazônicos, revelando que “microplásticos foram encontrados no trato gastrointestinal e nas brânquias de 67 (98%) dos 68 indivíduos analisados“.
A pesquisa identificou os principais tipos de polímeros plásticos presentes nos peixes: “Polietileno, polipropileno, polietileno tereftalato, poliestireno e cloreto de polivinila representam 90% dos polímeros plásticos usados e dão origem à maioria dos microplásticos encontrados nesse ambiente“. A professora Ribeiro-Brasil destaca que “peixes que habitam ambientes com alta movimentação de sedimentos e que se movem constantemente nos riachos são mais vulneráveis” à contaminação, uma vez que se alimentam de organismos bentônicos, que vivem no fundo do rio, onde os microplásticos se acumulam.
Uma reflexão sobre os impactos ambientais
É fundamental questionar a atribuição automática de culpa ao agronegócio quando se trata de impactos ambientais, especialmente em relação à poluição por plástico. Embora a atividade agrícola gere resíduos plásticos, estes cumprem uma norma bem clara para destinação adequada. Já a população urbana, como principal consumidora de produtos industrializados, contribui massivamente para o problema ambiental sem a devida fiscalização. O descarte inadequado de embalagens, sacolas plásticas, garrafas PET e outros itens do cotidiano leva ao acúmulo de plástico em aterros sanitários, lixões a céu aberto e cursos d’água, impactando a fauna e a flora.
O impacto do plástico na biodiversidade marinha é alarmante e o Brasil tem grande responsabilidade nisso. Segundo o relatório “Fragmentos da Destruição“, lançado recentemente pela Oceana, nosso país despeja 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos anualmente, sendo o 8º maior poluidor plástico do mundo.
Iran Magno, analista de campanhas da Oceana, destacou no webinário de lançamento do relatório, realizado no último dia 17, a urgência de repensarmos a produção do plástico. “Precisamos fechar a torneira dos plásticos descartáveis que não são recicláveis e garantir que os itens plásticos produzidos voltem ao sistema econômico – pela reutilização ou reciclagem, ou sejam produzidos de modo que possam ser compostáveis.“, avalia.
Segudo Iran, é por isso que da entidade defende o avanço do Projeto de Lei 2524/2022, que propõe soluções reais para reduzir a poluição e proteger não só a natureza, mas a nossa saúde.
A pesquisa da professora Ribeiro-Brasil, realizada em Mato Grosso, o coração do agronegócio brasileiro, serve como um chamado à reflexão sobre a responsabilidade compartilhada pela poluição por plástico. É preciso que a população urbana repense seus hábitos de consumo, buscando alternativas mais sustentáveis, como a redução do uso de plástico descartável, a reutilização de embalagens e a adesão à coleta seletiva e à reciclagem.
A conscientização sobre o impacto do plástico no meio ambiente é crucial para a construção de um futuro mais sustentável. A pesquisa da professora Ribeiro-Brasil, ao evidenciar a contaminação de peixes em riachos amazônicos, demonstra que a poluição por plástico não se limita aos oceanos, afetando também os ecossistemas de água doce e a vida de comunidades que dependem desses recursos. A responsabilidade pela mudança, portanto, é de todos.
Abaixo você pode ler o relatório “Fragmentos da Destruição” publicado pela Oceana.
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