Solução inovadora mencionada no estudo é o conceito de Agrivoltaicos, que combina a produção de energia solar com práticas agrícolas e de gestão de vegetação, potencializando o repovoamento de abelhas e polinização no campo.
Imagine um cenário inusitado: em vez de vastos campos agrícolas ou um parque natural, há uma série de painéis solares com flores e insetos prosperando entre eles. Esse foi o resultado de uma pesquisa realizada pelo Laboratório Nacional de Argonne e pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável dos EUA (Link no final desta matéria). Eles queriam saber como os habitats restaurados, plantados com gramíneas e flores nativas, impactariam a comunidade de insetos em usinas solares.
O estudo observou dois locais em Minnesota, ambos instalados em terras agrícolas desativadas, onde a restauração da vegetação e a criação de habitat para polinizadores foram priorizadas. E o resultado foi impressionante: em menos de cinco anos, a abundância de insetos triplicou, com um aumento de 20 vezes no número de abelhas nativas. A pesquisa não só mostrou que esses habitats restaurados podem rapidamente se tornar refúgios para insetos, mas também indicou um benefício adicional: a polinização das plantações vizinhas, como o campo de soja ao lado das usinas solares.
“O esforço para obter esses dados foi considerável, retornando a cada local quatro vezes por verão para registrar a contagem de polinizadores”, disse Heidi Hartmann, gerente do Programa de Recursos Territoriais e Políticas Energéticas da divisão de Ciências Ambientais de Argonne e coautora do estudo.
Energia solar e biodiversidade
Os resultados dessa pesquisa destacam como a integração de práticas amigáveis ao habitat nas instalações de energia solar pode reverter a perda de biodiversidade global de insetos, uma preocupação crescente causada pela perda de habitat, uso de defensivos e mudanças climáticas. Os cientistas descobriram que, além de ser uma fonte de eletricidade com baixa pegada de carbono, a energia solar pode ser uma ferramenta crucial na conservação da biodiversidade.
“Com o tempo, vimos o número e os tipos de plantas com flores aumentarem à medida que o habitat amadurecia. Medir o impacto positivo correspondente para os polinizadores foi muito gratificante.”, completa Hartmann.
Ao utilizar terras previamente perturbadas, como antigas áreas agrícolas, em vez de áreas virgens, as usinas solares podem trazer um novo propósito para essas terras. Em vez de apenas gerar energia, elas podem se tornar habitats que atraem insetos benéficos, especialmente polinizadores, como abelhas e borboletas, que são essenciais para a agricultura.
Agrivoltaicos: o futuro da agricultura e da energia
Uma solução inovadora mencionada no estudo é o conceito de agrivoltaicos, que combina a produção de energia solar com práticas agrícolas e de gestão de vegetação. Nesse sistema, plantas e flores são cultivadas sob os painéis solares, oferecendo um habitat para polinizadores, enquanto a terra continua a gerar eletricidade. Essa abordagem não apenas preserva as terras agrícolas produtivas, mas também potencializa os serviços ecossistêmicos, como a polinização, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a economia agrícola.
Benefícios práticos
Com o aumento da demanda por eletricidade limpa, estima-se que cerca de 10 milhões de acres de terras nos Estados Unidos serão necessários até 2050 para atender às metas de descarbonização da rede elétrica. Transformar terras agrícolas desativadas em usinas solares amigáveis ao habitat é uma estratégia promissora para mitigar conflitos de uso da terra, protegendo terras agrícolas férteis e melhorando sua produtividade.
“Esta pesquisa destaca as respostas relativamente rápidas da comunidade de insetos à restauração de habitats em locais de energia solar“, disse Lee Walston, ecologista de paisagens e cientista ambiental de Argonne, autor principal do estudo.
Os benefícios são claros: restauração de biodiversidade, aumento na polinização de culturas agrícolas, uso inteligente do solo e combate às mudanças climáticas. A pesquisa mostrou que, ao alinhar o desenvolvimento de energia renovável com a conservação ambiental, é possível criar soluções que sejam sustentáveis em múltiplos aspectos.
“Ela [a pesquisa] demonstra que, se adequadamente localizada, a energia solar amigável ao habitat pode ser uma maneira viável de proteger as populações de insetos e melhorar os serviços de polinização em campos agrícolas adjacentes.” avalia Walston, que também chefia o departamento de Ecologia, Recursos Naturais e Sistemas Gerenciados na divisão de Ciências Ambientais de Argonne.
Próximos passos
Embora o estudo seja promissor, ele aponta que mais pesquisas são necessárias para avaliar o impacto dessas práticas em outras regiões e ecossistemas. Cada local pode apresentar desafios específicos, e será importante entender como maximizar os benefícios dessa combinação de energia solar e biodiversidade.
Essa pesquisa, financiada pelo projeto InSPIRE através do Escritório de Tecnologias de Energia Solar do Departamento de Energia dos EUA, lança uma luz sobre o potencial inexplorado das usinas solares como ferramentas de conservação. No futuro, à medida que mais terras são destinadas à produção de energia limpa, práticas como essa podem ser a chave para preservar a biodiversidade e assegurar um equilíbrio sustentável entre progresso e conservação.
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