Presidente da Aprosoja-MT avalia situação como “crítica” e já acende sinal de alerta para possíveis impactos negativos na produção do estado.
O plantio da soja em Mato Grosso, maior estado produtor da oleaginosa no Brasil, tem enfrentado um cenário preocupante em 2024 devido ao atraso das chuvas. O fenômeno climático, já comum em alguns anos, trouxe incertezas e desafios que podem impactar não apenas a produtividade da soja, mas também o milho, especialmente no que se refere à janela de plantio ideal para a segunda safra.
Soja: O relógio contra o produtor
Em entrevista ao Agronews, o presidente da Associação dos Produtores de Soja em Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, destacou a gravidade da situação. Segundo ele, até o dia 4 de outubro, apenas 3% da área prevista para plantio havia sido semeada, um número muito abaixo do que se observava em anos anteriores. “Para efeito de comparação, no mesmo período do ano passado, 14% da soja já estava no solo, enquanto a média dos últimos cinco anos gira em torno de 9%.“, avalia Lucas.
Essa situação é alarmante, pois o atraso no plantio da soja afeta diretamente o seu fotoperíodo – o ciclo da planta que depende da quantidade de luz e temperatura para se desenvolver. Com temperaturas elevadas e pouca umidade no solo, o metabolismo da planta é prejudicado. “A soja, que precisa de condições adequadas para absorver nutrientes e realizar fotossíntese de forma eficiente, acaba gastando mais energia e podendo perder produtividade, como já foi observado em safras anteriores.“, explica o presidente da Aprosoja. Aperte o play no vídeo abaixo e confira a entrevista completa.
Milho: Atraso na soja afeta diretamente o milho segunda safra
Se a situação da soja já é motivo de apreensão, o cenário para o milho segunda safra é ainda mais crítico. O milho no Brasil é amplamente cultivado logo após a colheita da soja, em um sistema conhecido como “safrinha“. Entretanto, o atraso no plantio da soja inevitavelmente desloca o calendário para o milho, que corre o risco de ser plantado fora da janela ideal.
“Estamos preocupados com as perdas, pois a tendência é que a soja tenha seu ciclo afetado, o que impacta diretamente a qualidade e quantidade da colheita, além de prejudicar o ciclo do milho“, comenta Beber.
No ano passado, as condições climáticas colaboraram, mesmo com um início de plantio da soja também atrasado. O calor intenso até o início de janeiro fez com que o ciclo da soja fosse encurtado, permitindo que o milho fosse plantado a tempo. Porém, este ano, as previsões indicam que as temperaturas devem cair mais cedo, prolongando o ciclo da soja. Esse cenário coloca o milho em uma situação ainda mais desfavorável, pois boa parte dele pode ser plantada fora da janela, o que compromete a produtividade.
Estimativas de perdas
As projeções já são pessimistas na avaliação do presidente da Aprosoja-MT. Segundo ele, e dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), com o atual cenário de atraso, já estimasse uma perda de mais de 2 milhões de toneladas de soja só nesta semana. Isso se deve, principalmente, ao fato de que muitas regiões do estado ainda não conseguiram iniciar o plantio por falta de chuvas adequadas.
Além disso, o impacto sobre o milho pode ser severo. O plantio tardio do milho fora da janela ideal expõe as lavouras a riscos climáticos, como geadas ou seca na fase de desenvolvimento da planta, o que pode reduzir drasticamente a produção.
Comparativo das últimas safras
Para entender o impacto do clima e das condições atuais no desempenho das safras, veja a tabela comparativa com dados das últimas três safras em Mato Grosso:
Ano Safra | Produção de Soja (milhões de toneladas) | Produção de Milho (milhões de toneladas) | Projeção de Perdas Soja (milhões de toneladas) | Projeção de Perdas Milho (milhões de toneladas) |
---|---|---|---|---|
2021/2022 | 38,0 | 39,5 | 0,8 | 1,5 |
2022/2023 | 41,0 | 45,0 | 0,6 | 1,2 |
2023/2024 | 39,0 (queda de 2,0) | 43,0 (queda de 3,5) | 2,0 | 3,5 |
Com o desenrolar da safra de 2024/25, os produtores de soja e milho em Mato Grosso precisarão de estratégias ágeis para minimizar os impactos das condições climáticas adversas. A dependência das chuvas coloca em evidência a importância de uma boa gestão hídrica e do planejamento eficiente. Para os próximos meses, o monitoramento climático será crucial para prever como o ciclo das lavouras se comportará e quais serão as melhores práticas para mitigar perdas.
O agronegócio mato-grossense, que é um dos pilares da economia brasileira, enfrenta mais uma prova de resiliência, mas, com a tecnologia e a expertise dos produtores, há esperança de que parte dos impactos possam ser contornados. No entanto, as perdas são inevitáveis, e os números já indicam um ano desafiador.
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