Como assim um Boeing da Vasp? e como ele foi parar ao lado de uma rodovia no “meio do nada”? leia a matéria e entenda essa história de um apaixonado pela aviação
Na cidade pacata de Nanuque, em Minas Gerais, algo inusitado chama a atenção dos viajantes que cruzam suas estradas. Não, não é um monumento histórico nem uma estátua extravagante; é um Boeing 737-200 da Vasp. Como esse avião gigante foi parar “no meio do nada” é uma história que vai além da imaginação de muitos. Confira!
O início de uma paixão pela aviação
Tudo começou há uma década, em setembro de 2013, quando a Vasp, uma famosa companhia aérea brasileira, estava em processo de falência. O empresário Tadeu Milbratz, movido por sua paixão pela aviação, decidiu participar de um leilão inusitado: os aviões que pertenciam à massa falida da Vasp estavam sendo vendidos. E ele arrematou um Boeing 737-200.
A VASP foi uma empresa aérea brasileira que operou entre 1933 e 2005. Um dos aviões icônicos da companhia foi o Boeing 737-200, apelidado de Breguinha. A VASP foi a maior operadora desse avião no Brasil.
Como Tadeu lembra: “Fiquei sabendo do leilão e falei: ‘vamos comprar um Boeing deles’“. O problema? O Boeing estava em Manaus, a uma distância considerável de Minas Gerais. Transportar um avião por mais de 4.600 km por via terrestre seria uma tarefa hercúlea, mas eles estavam determinados.
A épica viagem de um Boeing
O primeiro desafio foi o desmonte do Boeing. E, aqui, não se tratou de uma operação cirúrgica precisa. As asas da aeronave foram serradas com uma serra. De fato, era uma das partes mais deterioradas. Isso, segundo o piloto Fernando Ferracioli, custou mais caro do que todo o transporte subsequente.
A saga do transporte incluiu o envio por balsa pelo Rio Amazonas até Belém e, a partir daí, por estrada até o nordeste de Minas. “Acredito que tenha sido o maior transporte rodoviário no Brasil de um avião depois da balsa. Foram três carretas envolvidas nesse transporte“, relata Fernando.
Esperar o tempo certo também foi essencial. A viagem envolveu muitas preocupações, como o clima amazônico e os riscos que os trabalhadores corriam ao lidar com uma aeronave desmontada.
Finalmente, após quase 18 meses, o Boeing pousou em Minas Gerais. A aeronave foi remontada nas margens da BR-418, e o resultado deixou todos curiosos. O empresário não planejava fazer disso um empreendimento comercial, mas sim criar uma atração para a cidade. Como Fernando relembra, “Tadeu sempre falou que tem muita gente que nunca teve a possibilidade de ver essa aeronave de perto. Então ele queria proporcionar isso, que as pessoas chegassem perto, tirassem fotos. Nunca foi transformar em algo comercial.“
Curiosidade sobre o apelido carinhoso “Breguinha”
O apelido carinhoso desse avião, conhecido como “Breguinha” entre os entusiastas da aviação, tem raízes interessantes no Brasil. A origem desse apelido remonta a 1987, quando uma novela muito popular da Rede Globo, intitulada “Brega e Chique” estava no auge de sua audiência. Nessa época, os novos Boeing 737-300 estavam sendo introduzidos na frota aérea.
Na trama da novela, esses Boeing 737-300 eram destaque, tornando-se um símbolo marcante na memória do público. A relação entre a novela e o avião mais novo acabou gerando o apelido “chique” para esse modelo. O nome “Braguinha” se refere ao Boeing 737-200, que era mais antigo, e recebeu esse apelido de forma carinhosa em contraste com o “chique” Boeing 737-300. Essas conexões entre cultura popular e aviação frequentemente resultam em apelidos cativantes e histórias únicas.
Investimentos e um Ponto Turístico
Além do custo de arrematar o Boeing em leilão, o frete de Manaus, a manutenção mecânica e o desmonte consumiram cerca de R$ 150.000. Outros R$ 50.000 foram gastos para dar ao avião a aparência original da Vasp, incluindo a pintura original da companhia aérea. No total, Tadeu investiu quase R$ 300.000 nessa empreitada.
Hoje, o Boeing é considerado um ponto turístico. Quem passa pela BR-418 faz questão de parar e tirar fotos com o “cartão postal” inusitado de Nanuque.
Tadeu não descarta a ideia de vender parte do terreno para negócios locais, desde que não prejudiquem a vista. Por enquanto, o Boeing permanece como um marco inusitado, uma atração para aqueles que viajam por Minas Gerais rumo às praias da Bahia.
Abaixo você confere um review feito pelo canal Aero Por Trás da Aviação, sobre o Boeing 737-200 da VASP – O Clássico Breguinha. Aperte o Play!
Em meio a essa história improvável, o Boeing em Nanuque se tornou muito mais do que uma aeronave aposentada. Ele é um exemplo de como a paixão e a visão podem transformar algo comum em uma atração memorável, e como uma cidade pacata pode ser eternizada na memória dos viajantes. O Boeing da Vasp no meio do nada é uma prova de que o inusitado pode acontecer onde menos esperamos.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®, com informações de Nossa Viagem UOL