Usando comunicação acústica para ecolocalização como os morcegos, robôs minúsculos conseguem silenciar pessoas, criando zonas de fala com tecnologia revolucionária de “enxames acústicos” (vídeo impressionante dos testes no final desta matéria)
E se você pudesse se concentrar em uma conversa em meio a uma sala barulhenta, ou eliminar completamente o som de uma região? Parece ficção científica, mas essa promessa futurista agora está mais próxima da realidade. Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Washington desenvolveu minúsculos robôs que se auto-organizam em enxames acústicos e podem identificar e separar falantes em uma sala. Essa tecnologia, publicada na semana passada(21/10), na renomada revista Nature Communications, abre as portas para aplicativos inéditos.
Tecnologia para silenciar pessoas
Os cientistas conseguiram criar pequenos robôs do tamanho de uma bola de golfe que contêm microfones, alto-falantes e sensores. Esses dispositivos são capazes de se comunicar por sinais sonoros e se espalhar sozinhos por uma superfície como uma mesa. O enxame coopera para se localizar no espaço com precisão centimétrica, sem necessidade de câmeras ou qualquer infraestrutura externa.
“É como se cada robô fosse um ouvido móvel trabalhando em conjunto para entender uma cena acústica complexa”, explica o professor Shyamnath Gollakota, líder da pesquisa. “Juntos, eles conseguem associar cada fonte sonora a uma localização precisa no espaço, o que nunca havia sido feito antes sem câmeras”. complementa.
Quando os robôs estão espalhados pelo ambiente, eles podem detectar e separar as vozes de várias pessoas falando ao mesmo tempo. Usando algoritmos de aprendizado de máquina, o enxame identifica o número de falantes, suas localizações em duas dimensões e consegue silenciar pessoas, isolando o áudio de cada um.
Isso permite focalizar uma conversa específica ou eliminar sons de uma região, como em cenas clássicas de ficção científica. “Agora, essas aplicações futuristas estão ao alcance da mão”, celebra o professor Gollakota.
Controle fino do ambiente sonoro
Até hoje, o controle do som ambiente exigia alto-falantes fixos ou microfones próximos às pessoas. Isso limita a precisão na eliminação ou captura de áudio por região. Já os enxames acústicos móveis conseguem uma resolução muito maior.
“Podemos basicamente desenhar zonas no ar e controlar se os sons serão audíveis, amplificados ou totalmente eliminados em cada uma”, descreve Gollakota. Isso permite, por exemplo, ativar zonas de fala próximas a cada participante em uma sala de reuniões para capturar suas vozes limpamente, enquanto uma zona de silêncio é direcionada a aparelhos como telefones que possam causar distrações.
Outra aplicação é o cancelamento direcionado de ruídos inoportunos como latidos de cachorro sem afetar outras partes do ambiente sonoro. As possibilidades são infinitas e vão exigir discussões sobre ética e privacidade no uso dessa tecnologia.
Antes restrito à ficção, o controle total de cenas acústicas para silenciar pessoas, agora parece possível graças aos robôs cooperativos. E você, gostaria de eliminar sons indesejados ou se concentrar em conversas específicas usando enxames acústicos? O futuro chegou e essas escolhas complexas serão cada vez mais parte do nosso dia a dia.
Robôs se comunicam como morcegos
A comunicação acústica entre os robôs se inspira na ecolocalização dos morcegos. Os dispositivos emitem cliques ultrassônicos inaudíveis para humanos e analisam os ecos captados pelos microfones. Isso permite medir distâncias entre cada par de robôs com precisão centimétrica.
“Mesmo em ambientes desafiadores, com reflexões sonoras e obstáculos, nosso algoritmo consegue isolar o trajeto direto do som e calcular distâncias com erros medianos de menos de 0,5 centímetros”, destaca Tuochao Chen, co-autor do estudo.
Os robôs também contêm giroscópios e acelerômetros, sensores semelhantes aos de smartphones. As distâncias sonoras são combinadas com esses sensores de movimento para que cada robô determine sua localização no espaço.
Quando a energia acaba, os robôs navegam de volta para uma base de recarga usando essa mesma capacidade de se localizar. Lá, eles se conectam automaticamente para reabastecer sem intervenção humana.
Ainda não acredita que isso é verdade? então assista um vídeo publicado pelo pesquisador Malek Itani, que também faz parte da equipe que está desenvovendo esta tecnologia. Aperte o play!
Tecnologia controversa
Podemos silenciar pessoas no ambiente? Sim, mas apesar do potencial revolucionário, a tecnologia de enxames acústicos móveis também gera preocupações. Escutar e manipular sons ambientes pode violar a privacidade se usado indevidamente.
“Trata-se de uma capacidade poderosa, que deve ser aplicada com responsabilidade e governança”, pondera o professor Gollakota. Ele sugere discussão pública para moldar o uso ético e regular essa tecnologia emergente, evitando abusos.
Outro desafio é criar versões acessíveis da tecnologia. Por enquanto, a solução desenvolvida na Universidade de Washington ainda depende de robôs caros de fabricação artesanal. A equipe busca parcerias para viabilizar produção em massa e democratizar o acesso.
O estudo representa um avanço rumo a tecnologias antes imaginadas apenas na ficção científica. Resta agora garantir que seus benefícios sejam compartilhados por todos com respeito à privacidade e aos direitos humanos. Se usada com sabedoria, a capacidade de manipular cenas sonoras poderá melhorar nossas vidas. Vamos aguardar essa tecnologia ficar disponível no mercado.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®