O ostracismo digital é a nova onda! Você já bateu um papo pessoalmente com alguém hoje? ou foi tomar aquele cafezinho com seu amigo de infância? jogou bola ou passeou no parque? Se ainda não, tome cuidado você pode ter sido infectado por essa epidemia moderna
Ostracismo Digital
Estamos cada vez mais conectados ao mundo digital, mas paradoxalmente nos isolando uns dos outros. As telas se tornaram nossas janelas para o mundo, mediando praticamente todas as nossas interações. Apesar dos benefícios trazidos pela tecnologia, seu uso excessivo pode levar ao ostracismo, afastando-nos do contato humano fundamental para nossa saúde emocional e social.
Antes de continuarmos, gostaria de pedir à você para que dê um play no vídeo abaixo. Esta é uma ótima playlist de músicas para nos fazer refletir melhor e mantermos o foco nesse nosso bate-papo virtual. Agora vamos continuar a leitura…
No princípio era o verbo
Lembra-se de como era antes? Costumávamos nos encontrar para tomar um café, jogar conversa fora no parque, ver um filme juntos no cinema. Hoje, muitos preferem ficar em casa online. As relações tornaram-se superficiais, baseadas em curtidas e compartilhamentos. Perdemos a experiência genuína de olho no olho, do sorriso espontâneo, do abraço amigo e a até mesmo das frustrações da vida.
Como diria Aristóteles, o grande filósofo da antiguidade, “o homem é por natureza um animal social“. Precisamos uns dos outros para florescer. Mas como cultivar vínculos profundos se mal fazemos contato visual, presos à mesmice do feed infinito (uma verdadeira rodinha de Hamster)? Podemos afirmar que a solidão é epidemia neste mundo hiperconectado. Quantos likes receberam seu último post, meu caro, mas quem realmente se importa com você?
Redes sociais?
Não me entenda mal. Redes sociais, streaming, jogos online também trazem benefícios. O problema, como alertou Platão, é quando “as sombras do mundo das ideias” viram válvula de escape da realidade ou único canal de contato humano. Se usados com moderação e ‘consciência‘, são ótimas ferramentas. O excesso, porém, leva à alienação. E é justamente disso que estamos falando.
Pense na alegria de seu filho ao ganhar o videogame mais novo, prometendo brincar apenas meia hora por dia. Um mês depois, você precisa arrastá-lo para longe da tela mesmo para as refeições. Ele trocou os amigos pelos personagens digitais, o futebol pelo controle. A imaginação antes tão vívida cedeu espaço à programação alheia.
Não é só entre os jovens. Quantos adultos preferem a companhia virtual à presença real? Escolhem parceiros online em vez de cultivar os relacionamentos já existentes. Trabalham remotamente sem ver colegas, pedindo delivery para não sair de casa. E a Pandemia do Covid-19 fortaleceu isso absurdamente. As opções de entretenimento são infindáveis, customizáveis ao gosto de cada um. Mas terminado o prazer momentâneo, resta apenas o vazio.
Nem vou entrar em detalhes quanto ao uso da inteligência artificial, mas só pelo termo, já dá para saber que essa será a próxima Pandemia.
Diversidade e empatia
Nós, humanos, precisamos da alteridade para crescer, do diferente que nos provoca e complementa. Conviver apenas com iguais, em bolhas fechadas, limita nossa visão de mundo. Trocamos inspiração por informação, diversidade por homogeneidade. As máquinas são previsíveis e controláveis. As pessoas, imprevisíveis e incontroláveis. É neste espaço de improviso que a vida acontece. É nesse tipo de situação contraditória que nossos conceitos são forjados ou testados, sobrando aquilo que nos é atribuído como experiência de vida.
Não quero aqui culpar a tecnologia, muitas vezes bem-intencionada em nos conectar. Falta, isso sim, uso consciente, como disse Sócrates. Lembrar que somos seres encarnados, não apenas mentes que habitam corpos. Corpo e mente se retroalimentam. Precisamos do toque, do olfato, da presença viva que nenhum pixel pode replicar.
Vida conectada online e offline
Sei bem o fascínio que a vida online exerce. Parece mais fácil, não é mesmo? Controlamos tudo que entra e sai. Ninguém nos pede nada, nos confronta, nos desafia a mudar. Mas quando a tela se apaga, com quem poderemos contar? Quantos nos conhecem de verdade? Isolamento é uma prisão rasa e solitária. Por mais diferentão que você seja, meu caro, não foi feito para solidão. Isso é um fato!
Mas há caminho de volta? um antídoto para essa epidemia? Claro que sim. Comece aos poucos: feche o notebook mais cedo, deixe o celular longe enquanto trabalha, programe encontros presenciais. Convide alguém para tomar um café. Faça uma caminhada no parque com a sua família. Surpreenda sua mãe com uma visita. Ofereça ajuda a quem precisa. Abrace. Ouça. Esteja sempre presente.
Cultive seus relacionamentos já existentes ao invés de buscar conexões superficiais online. Aproxime-se das pessoas, mesmo que pareçam estranhas a princípio. Verá que temos muito mais em comum do que imagina. Nossa humanidade compartilhada é um solo fértil para que os vínculos genuínos floresçam, sem curtidas ou filtros desnecessários.
Sei que requer esforço, meu caro leitor. Sair da zona de conforto dá trabalho. Mas lembre-se, como disse Kierkegaard, “a vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas só pode ser vivida olhando-se para frente“. Pode acreditar, estamos todos juntos nisso. Somos feitos para viver em comunidade. E comunidades não se constroem apenas online, mas olho no olho, tijolo por tijolo.
Então eu pergunto, o que podemos criar juntos?
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®