Encontro Nacional dos Produtores de Leite uniu o setor produtivo para discutir importação de leite. “Sofremos uma competição desleal e desnecessária que desestrutura o setor lácteo”, ressaltou o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA
Encontro Nacional dos Produtores de Leite
Centenas de pecuaristas e líderes de entidades representativas do setor lácteo se reuniram em Brasília no dia 16 de agosto, com o intuito de reivindicar medidas de mitigação diante do crescente cenário de compra internacional de produtos lácteos, que está afetando profundamente o setor leiteiro brasileiro.
O evento, intitulado “Encontro dos Produtores Brasileiros de Leite“, trouxe à discussão a preocupante tendência de importação de lácteos, especialmente vindos da Argentina e do Uruguai. Com o aumento constante dos custos de produção que os produtores brasileiros têm enfrentado nos últimos anos, a busca por leite no mercado internacional tem gerado uma concorrência desleal. Esse cenário não apenas ameaça os meios de subsistência de milhares de pecuaristas, mas também coloca em risco a criação de postos de trabalho.
Até o momento, o ano de maior importação de lácteos pelo Brasil foi 2016, com um total de 1,88 milhão de litros de leite importados. Entretanto, apenas no primeiro semestre de 2023, o país já adquiriu 1,23 milhão de litros, indicando a possibilidade de quebrar o recorde de importações de lácteos. O grande destaque fica para o fato de que 93% dessas importações provêm da Argentina e do Uruguai, os principais alvos das preocupações dos produtores rurais brasileiros. Dentre as categorias de importação, 80,2% corresponderam ao leite em pó, 19% aos queijos, 0,5% à manteiga e gorduras, e o restante a outros produtos.
Importação de leite e o prejuízo social para o Brasil
O tema central do encontro foi “Importação de leite e o prejuízo social para o Brasil: desestruturação da cadeia láctea, êxodo rural e desemprego“. A iniciativa foi organizada pela Frente Parlamentar em Apoio ao Produtor de Leite (FPPL), ligada à Frente Parlamentar Agropecuária (FPA). O evento contou também com o apoio da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), entre outras entidades.
Geraldo Borges, presidente da Abraleite, expressou sua preocupação em relação à compra de leite em pó pelo governo federal como uma medida para amenizar a crise do setor leiteiro. Em vez de melhorar a situação, ele acredita que essa medida pode piorar ainda mais a situação. “O nosso apelo é parar imediatamente a importação danosa e predatória de leite no Brasil. Precisamos de um freio de arrumação emergencialmente e parar a importação. Toda ajuda é bem-vinda, mas não serão R$ 100 milhões ou R$ 200 milhões de leite em pó que vão solucionar o problema, talvez piore porque será mais leite argentino no mercado“, disse Borges. Ele ainda ainda fez um apelo para que a importação prejudicial e predatória de leite seja interrompida imediatamente no Brasil.
O presidente da Abraleite apontou que a injeção de recursos na forma de R$ 100 milhões ou R$ 200 milhões em leite em pó não resolverá a questão, e até mesmo poderá agravá-la, uma vez que isso adicionaria mais leite argentino ao mercado nacional.
Concorrência “desleal”
Ana Paula Leão, deputada e membro da FPA, destacou a necessidade de valorizar a cadeia do leite por meio da defesa comercial, visando combater a concorrência desleal. Ela enfatizou o aumento preocupante das importações de produtos lácteos, principalmente da Argentina e do Uruguai, que tem contribuído para a dramática situação enfrentada pela pecuária leiteira nacional e pediu a valorização ao produtor de leite por meio de políticas públicas que passem por medidas como a defesa comercial para impedir a concorrência desleal provocada pelas importações “predatórias”.
De janeiro a julho deste ano, o Brasil importou 161 mil toneladas de lácteos, alta de 158% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Comex Stat. De acordo com acompanhamento da CNA, o volume total equivale a 1,2 bilhão de litros de leite que deixaram de ser captados no Brasil, aumento de 268% ante 2022 e consolidando assim o maior volume da história para o período.
Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAEP e representante da CNA, reforçou a crise que o setor lácteo brasileiro está atravessando. Ele fez um apelo aos deputados, pedindo união para enfrentar essa situação. Volpi ressaltou que a maioria dos produtores de leite é composta por pequenos agricultores, e que a excessiva importação de lácteos do Mercosul prejudica particularmente esses produtores. Ele também destacou as taxas de importação praticadas por outros países para proteger suas cadeias produtivas de lácteos, como Canadá, Suíça e Japão.
“Nunca tivemos um momento tão difícil, com um volume tão grande de importação que atinge gravemente pequenos, médios e grandes produtores. Sofremos uma competição desleal e desnecessária que desestrutura o setor lácteo”, ressaltou o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Ronei Volpi.
Diversas associações de criadores de bovinos de leite também estão apoiando medidas para reduzir o impacto da importação de lácteos. João Guilherme Brenner, diretor-presidente da Associação Paranaense de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), enfatizou a necessidade de avaliar cuidadosamente os impactos dessa importação para o setor leiteiro brasileiro. Ele destacou os desafios enfrentados pelos produtores nacionais, como altos custos de produção e exigências sanitárias rigorosas, ressaltando que a importação desenfreada de leite pode ameaçar a sustentabilidade dos produtores e milhões de empregos.
A preocupação com a importação descontrolada de lácteos é clara e o engajamento das entidades e produtores em buscar soluções para essa questão é fundamental para a preservação da indústria leiteira nacional.
Por Vicente Delgado – AGRONEWS®